Confesso que antigamente eu olhava para a literatura de autoajuda com certo desdém, como se fosse uma escrita superficial através da qual o autor diz aquilo que o leitor quer ouvir, a minha desconfiança aumentava à medida que eu via esse tipo de livro ocupar cada vez mais espaço nas prateleiras das livrarias prometendo uma solução mágica para os problema mais complexos, sejam eles financeiros, de saúde, de relacionamento, de autoestima ou espiritualidade.
É claro que
é preciso separar o joio do trigo, assim como em todas as outras categorias
literárias há os livros bons e os ruins, há aqueles que só pretendem nos vender
promessas milagrosas, mas também há aqueles escritos com ética e responsabilidade,
por profissionais comprometidos ou por pessoas que desejam compartilhar uma
experiência pessoal para ajudar outras pessoas que possam estar enfrentando
dificuldades semelhantes. Hoje vejo que há muitos bons livros de autoajuda e motivacionais baseados em
experiências pessoais, pesquisas e evidências, que promovem a reflexão e a autonomia
do leitor. Mas, o verdadeiro valor desse tipo de literatura não está tanto no
conteúdo, mas sim na reação que desperta no leitor, se o texto conseguir impactá-lo
ou confortá-lo de alguma forma, promover uma mudança positiva, isso é o que de
fato importa.
![]() |
Édipo e a Esfinge, de Gustave Moreau |
O que me
levou a escrever este texto é que me dei conta de que toda literatura têm em si
mesma um quê de autoajuda. A origem da literatura ocidental é atribuída às
obras de Homero, a Odisseia e a Ilíada, na Antiguidade Clássica com a
literatura greco-latina. Nas tragédias gregas existe o conceito de catarse,
definido por Aristóteles como um processo de purificação emocional do público
ao assistir à representação de uma tragédia. O termo "catarse" deriva
do grego "katharsis", que significa "limpeza" ou
"purificação". As tragédias retratavam personagens nobres e heroicos
que enfrentavam grandes conflitos e dilemas internos e externos como a luta
entre o destino e a vontade humana, a guerra e a disputa pelo poder. Um
exemplo de tragédia é a de Édipo rei, que passa a vida tentando fugir do
destino, mas acaba derrotado por ele. O objetivo era fazer que o público, ao
assistir às representações, lidasse com emoções intensas de terror e piedade
para libertar-se delas e experimentar uma sensação de alívio, conforto e
renovação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário