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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Diferenças entre os lares do Brasil e da Espanha


Hoje vamos falar das casas dos espanhóis, mais especificamente da capital, Madri, e seus arredores. São minhas observações pessoais, por isso já peço desculpas antecipadamente, pois não dá para generalizar. Certamente o que digo aqui não se aplica a todas as regiões nem a todos os lares, trata-se apenas a minha experiência pessoal, mas não deixa de ser instrutivo.



Particularmente, eu gosto bastante das construções mais antigas porque lembram minha infância. A foto acima foi tirada no bairro La Elipa, onde morei quando era pequena (inclusive já brinquei nesse emblemático dragão). Os edifícios desse bairro apresentam a tipologia correspondente às construções de "protección oficial" — ou seja, de preço limitado parcialmente subvencionado pela administração pública — do período de 1960-1970. 

Constituem blocos de uma altura limitada a 4 ou 5 andares com fachada de tijolo à vista e sacada com guarda corpo de ferro e os típicos toldos verdes nas janelas que ajudam a sobreviver ao abrasador verão madrilenho. Uma coisa curiosa é que esses apartamentos mais antigos não tinham elevador, mas como na Espanha a população idosa vem aumentando a cada ano, recentemente têm sido construído elevadores externos ao prédio, com entrada pela sacada, para facilitar a mobilidade dos moradores. Outro problema desses prédios mais antigos é que a maioria não tem garagens, consequentemente há uma disputa constante pelas vagas de estacionamento na rua e muitas pessoas acabam estacionando de forma irregular.

Cabe mencionar que lá então não se vê esse mar de grades, cercas elétricas e concertinas que vemos por aqui, esse tipo de preocupação se restringe mais aos bairros horizontais compostos por casas e situados nos arredores de Madri. Nos últimos três anos, estivemos morando em Belém do Pará, e uma coisa que me incomodava bastante era a quantidade absurda de grades e cercas nas casas, que as deixava com aparência de presídio, mas infelizmente o medo da violência faz parte da nossa realidade.

Para enfrentar o inverno, que é bastante rigoroso, a maioria dos apartamentos é dotada de calefatores ou radiadores a gás de parede, como o que aparece na foto. Nos banheiros, usam-se radiadores ou estufas de resistência portáteis para evitar o choque térmico ao sair do banho quente.

Como eu disse, a maioria dos madrilenhos vive em apartamentos, e aqueles que preferem morar numa casa, precisam mudar-se para urbanizações nos arredores de Madri, ou na região serrana. Isso proporciona qualidade de vida, mas tem um custo alto, a perda de tempo nos engarrafamentos em horários de pico nos deslocamentos entre a casa e o trabalho e o aumento de despesas com aquecimento, pois o frio extremo da região serrana exige um maior investimento em pisos aquecidos, lareiras, e isolamento térmico.

Mas voltando ao banheiro, na Espanha não se joga o papel higiênico nas papeleiras, somente em banheiros públicos, mas não nos residenciais.  Lá os encanamentos são preparados para receber o papel e não entopem como aqui, por isso o papel é jogado no vaso. Por tanto, se você vir uma papeleira no banheiro, saiba que ela serve para jogar qualquer tipo de lixo, menos papel higiênico. O chuveiro também é diferente do nosso, eles chamam de ducha, não é fixo, é dotado de uma mangueira e fica pendurado num gancho, de onde é possível retirá-lo e usá-lo como os nossos chuveirinhos.

Os banheiros de antigamente sempre tinham a banheira com a ducha, mas hoje em dia é comum usar somente o chuveiro com box, por uma questão de sustentabilidade, já que a banheira consome muita água.  

Agora vamos passar para a cozinha. Na Espanha, praticamente ninguém lava a louça à mão, isso é feito pelo lava-louças, é um utensílio comum, assim como a geladeira, o preço dos eletrodomésticos em geral é mais acessível. Pessoalmente, sempre tive curiosidade de saber o que é ambientalmente mais sustentável: lavar a louça à mão ou na máquina? Na Espanha há muita escassez de água. 

Eu nunca vi um botijão de gás ou mesmo um fogão a gás por lá, as cozinhas são equipadas com fogão elétrico de mesa coberto com vitrocerâmica. Outra coisa que você não vai encontrar por lá é a nossa típica panela de pressão com a válvula com pino. Quando veio ao Brasil, o meu cunhado olhava para a minha panela de pressão como se se tratasse de uma bomba (o botijão de gás então... uma ogiva nuclear!). Realmente a nossa cozinha parece muito rudimentar e perigosa perto da deles, mas também é uma questão de costume e cultura, pouco a pouco nos adaptaremos às novas tendências.




Como os cômodos dos apartamentos são bastante reduzidos, e atualmente os jovens demoram bastante em sair de casa devido ao alto índice de desemprego ou ao alto custo de vida, o espaço precisa ser muito bem aproveitado. Assim, é comum que, ao cair da noite, ocorra uma verdadeira transformação nos ambientes e uma sala de estar vire um dormitório, a mesa vire um aparador, e assim por diante. Há sofá-cama, armário-cama, mesa-cama, mesas que duplicam de tamanho, aparadores que viram mesas, tudo se adapta e se transforma, um verdadeiro exemplo de criatividade e funcionalidade.



Outra coisa curiosa é que não se passa pano no chão para limpar a casa. Lá não se usa rodo e pano, mas sim fregona, o esfregão com balde e espremedor. Ah, sim, um costume extremamente louvável é o de separar o lixo reciclável do orgânico, todos fazem isso. E ninguém joga restos de remédio no lixo caseiro, as pessoas os entregam nos pontos de coleta que ficam nas farmácias. O mesmo ocorre com as pilhas e outros lixos específicos. Também há pontos de coleta de eletrodomésticos e roupas e calçados para doação.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Curisiodades linguísticas

Uma armadilha difícil de esquivar, ao traduzir um texto, refere-se às palavras familiares que, inadvertidamente, adquirem significados diversos de acordo com a região geográfica em que se empregam. 


Hoje me ocorrem dois exemplo de construções em espanhol que costumam causar confusão e que, por coincidência, constroem-se de modo semelhante, com o verbo dar e pronome de objeto indireto: "me da coraje" y "me da pena".

Quando falamos de "coraje", a primeira coisa que nos veem à mente é valentia, bravura, ousadia, certo? Certíssimo. Pois  na Espanha, sobretudo na Andaluzia — não sei se também em outros países hispanófonos —, usa-se ainda no sentido de raiva, para referir-se a algo enfadonho, que aborrece. Assim, dependendo do contexto, "me da coraje" pode equivaler a "me da rabia". 

Exemplos: "Me da coraje que me mientas", "Le da coraje que le reprochen delante de extraños".



Da mesma forma, a expressão "me da pena", em algumas regiões da América, como a América Central, Antilhas, Colômbia, México, Panamá e Venezuela, pode equivaler a "me da vergüenza" para referir-se a uma situação embaraçosa. 

Exemplos: "Me da pena hablar de mi intimidad", "A ella no le da pena que la vean usar faja".

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Palavras raras: estraperlo

Nada mais certo do que afirmar que a língua está viva, ela é a maior manifestação cultural de um povo, pois registra todas as transformações e inovações da sociedade. Nosso léxico reflete nossa forma pensar e nossa forma de ver o mundo.

Hoje vamos conhecer a curiosa origem do termo espanhol estraperlo, um conceito que faz referência a uma situação contextual muito concreta. Este termo surgiu na Espanha, durante o período da segunda república, devido a um escândalo de corrupção relacionado a um jogo fraudulento.

O termo straperlo, surgiu da fusão do nome de seus dois inventores: Strauss e Perlo. Era um jogo de azar adulterado, semelhante a uma roleta. A bola e o cilindro dos números eram acionados através de um botão controlado por um mecanismo de relojoaria, que permitia que o banqueiro ganhasse sempre.

Entre maio e agosto de 1934, seus artífices tentaram introduzi-lo na Espanha e, para isso, precisaram resolver tramitações que deveriam autorizar seu uso legalmente, mas isso não ocorreu.
  
O jogo, proibido na Espanha de 1935, poderia ter sido introduzido graças á propina recebida por certas personalidades para que facilitassem seu estabelecimento.
O “escándalo del estraperlo” veio à luz em outubro de 1935, devido à denúncia apresentada por Daniel Strauss mediante a qual exigia uma “indenização” pelo prejuízo resultante da instalação do jogo e pelos subornos que ele afirmava ter pagado a políticos do Partido Republicano Radical. 

O escândalo envolveu o presidente do governo, Lerroux, que acabou sendo obrigado a renunciar.

A partir desse escândalo, a palavra estraperlo se tornou sinônimo de trapaça, tramoia ou negócio fraudulento. Assim, por extensão, o termo serviu para referir-se ao comércio ilegal (mercado negro), no período de pós-guerra civil, dos artigos controlados pelo Estado sujeitos a racionamento (decretado pelo regime de Franco de 1936 a 1952) e que tiveram seus preços superfaturados no comércio clandestino.

Atualmente o termo aparece registrado no dicionário da RAE, da seguinte forma.

Estraperlo

De Straperlo, nombre de una especie de ruleta fraudulenta que se intentó implantar en España en 1935, y este acrón. de D. Strauss y J. Perlowitz, sus creadores.

1. m. coloq. Comercio ilegal de artículos intervenidos por el Estado o sujetos atasa.
2. m. coloq. Conjunto de artículos que son objeto del estraperlo.
3. m. coloq. Chanchullo, intriga.

de estraperlo
1. loc. adj. Comprado o vendido en el estraperlo.
2. loc. adv. Dicho de comerciar: Ilegalmente, de manera clandestina.


Exemplo de uso atual:

Es el mismo aparato del Estado el que suministra el mercado negro, la candonga, como llaman aquí al estraperlo. No hay comerciantes, sino candongueiros, que cargan con generosidad en sus ventas el riesgo y el peligro de su actividad.”  Terres, J. Z. (9 de diciembre de 1984). Hambre, sequía y guerra en Mozambique. El país. Recuperado de http://elpais.com/diario/1984/12/09/internacional/471394806_850215.html


es.wikipedia.org
www.eumed.net
etmologias.dechile.net

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Es martes 13, ni te cases ni te embarques


Você sabia que na Espanha, Grécia e em alguns países hispano-americanos como Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Venezuela e Colômbia, a terça-feira 13  é considerada o dia de azar e não a sexta-feira 13, como ocorre no Brasil e nos países anglo-saxónicos?

Existe até um nome para essa fobia, “trezidavomartiofobia” e ainda um antigo refrão popular que explica, em parte, a superstição, “En martes, ni te cases, ni te embarques, ni de tu casa te apartes”.

Existem muitas explicações para a aversão à terça-feira 13, que incluem de derrotas militares a referências bíblicas.

O escritor e jornalista cordobês Marcos Rafael Blanco Belmonte atribui a aversão à queda de Játiva (Valência) em mãos muçulmanas, produzida em 1276, na qual teria morrido a maioria da população do vilarejo.

Outras teorias garantem que foi a combinação entre o número indesejável, visto que 13 foram os comensais que participaram da Última Ceia de Jesus Cristo, 13 eram os espíritos malignos segundo a cabala judaica, foi no  capítulo 13 do Apocalipse que se deu a chegada do Anticristo — e o famigerado dia — “martes”. Como sabemos, os dias da semana em espanhol estão relacionados aos nomes dos planetas do sistema solar, e Marte, segundo a mitologia grega, é o deus da guerra, portanto o dia “martes” seria regido pelo planeta vermelho, da destruição e da violência. A traumática queda de Constantinopla ocorreu numa terça-feira em 1453 — o que tornou esta data maldita. Também há quem garante que a confusão de línguas na Torre de Babel ocorreu numa terça-feira 13.

Considerando esta última teoria, a data representa sorte para nós, pois se não houvesse a confusão de línguas não haveria tradutores. Aliás, essa é mais uma prova de que a tradução não se trata apenas de verter um texto de uma língua para outra, ou de encontrar correspondentes léxicos, envolve muito mais que isso, até mesmo o conhecimento das superstições e crenças da cultura para a qual se traduz.
Por via das dúvidas, não custa nada bater três vezes na madeira para prevenir-se. 

E se quiser entrar no clima, clique aqui para ler uma postagem sobre cinco pesadelos que o tradutor pode enfrentar numa “sexta-feira 13” ou num “martes 13”, como preferir.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Brasileirismos

http://ospontosdevista.blogs.sapo.pt/
Para quem traduz do português do Brasil ao espanhol, uma das grandes dificuldades são os brasileirismos, isto é, marcas lexicais, semânticas e até mesmo sintáticas que diferenciam o português brasileiro do português lusitano e que traduzem um universo de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, de mais de 500 anos de história, de nossa natureza exuberante, a fauna, flora e geográfica, a miscigenação de diversas raças na formação do povo brasileiro e os costumes e manifestações culturais.

Neste artigo, vamos ater-nos aos brasileirismos mais evidentes, os do âmbito lexical. Da convivência com as línguas indígenas, destacam-se os tupinismos, brasileirismos que derivam diretamente do tupi-guarani, seja mediante sufixos que funcionam como adjetivos, qualificando o substantivo ao qual se ligam como, por exemplo, o sufixo ‘-açu’ que significa grande, itaguaçu (pedra grande), babaçu (palmeira grande); ou o sufixo ‘-mirim’, que significa pequeno, abatimirim (arroz miúdo), Mojimirim, cajá-mirim, etc.

Observamos tupinismos também em toponímicos como ‘carioca’, que significa casa do homem branco (caraíba + oca), Ipanema, Tijuca; em nomes e sobrenomes, Araci, Jandaia; elementos da fauna e flora como cupim, mandioca, abacaxi; na alimentação, em palavras como aaru (espécie de bolo que os nhambiquaras preparam com tatu moqueado, triturado em pilão e misturado com farinha de mandioca); em nomes de utensílios como moquém (grelha de varas para secar carne ou peixe); em nomes de fenômenos da natureza como a pororoca (grande onda que ocorre, em certas épocas, em rios muito volumosos, especialmente no Amazonas e que destrói tudo que encontra à sua passagem, causando grande estrondo e formando atrás de si ondas menores), deriva do tupi poro'roka, que significa estrondo; igarapé pequena corrente de água entre ilhas ou trechos de um rio ( ï'ara 'canoa' + 'pe 'caminho'), etc.

Ao lado das línguas indígenas e da língua portuguesa, convivemos também, com africanismos derivados de línguas africanas, principalmente as do grupo banto (quimbundo) e sudanês (ioruba ou nagô), faladas por uma população escrava. A influência africana na cultura nacional foi mais profunda que a indígena, provavelmente, devido à convivência que existia entre brancos e negros, que trabalhavam no interior das casas como cozinheiras, arrumadeiras, a presença da mãe-preta, a ama de leite e das crianças no convívio diário nas casas grandes. Fato que não se deu com o indígena.

Observamos influência africana no léxico brasileiro principalmente na alimentação, religião, manifestações culturais, etc. buzo (búzio), candomblê,  caçula, mungunzá (canjica),  cafuné (do quimbundo, uma língua da Angola, que originariamente significa "tomar a cabeça de alguém e torcê-la", mas que depois tomou o significado de coçar a cabeça de alguém com delicadeza, fazer um mimo, um carinho), etc. Além da influência no léxico, daqui resultaram várias influências no falar brasileiro a que se podem atribuir os seguintes fenômenos de fonética: ensurdecimento e queda do r final; redução de nd a n nos gerúndios; queda ou vocalização do l final; alguns casos de epêntese (por exemplo, fulô por flor ou quelaro por claro); etc.

Há também casos em que a cultura indígena e a afro-brasileira se fundem como é o caso do termo caruru, de origem indígena — ca-á-ruru — que representa uma espécie da flora brasileira, enquanto a iguaria com ela preparada e acrescida de outros ingredientes como o dendê, o camarão, entre outros, pertence à culinária afro-brasileira.

Além da influência indígena e africana no léxico do português brasileiro, temos também a influência de imigrantes italianos, espanhóis, alemães, árabes e japoneses. E ainda das invasões holandesas e francesas após a colonização portuguesa.

Há outros brasileirismos aparentes que não passam de formas dialetais portuguesas, oriundas das regiões que forneceram os colonos para o Brasil, como os Açores e as várias províncias portuguesas. O resultado foi prosa em vez de conversa ou salvar por saudar (ou dar a salvação, como ainda se diz em algumas regiões de Portugal). A influência açoriana é bem visível em Santa Catarina, por exemplo, em Florianópolis, no falar peculiar do “manezinho da ilha” conhecido informalmente como “manezês” e em diversas manifestações culturais como a renda de bilro; na literatura em quadrinhas e o pão de Deus, na gastronomia e em danças e folguedos como o do boi mamão.

Como acontece em todas as línguas transportadas de sua origem a outras paragens, o português brasileiro apresenta alguns termos arcaicos e um vocabulário que já foi esquecido no país de origem e que aqui se mantém vivo. São exemplos: reinar por fazer travessuras; função por baile; faceiro no sentido de peralta; aéreo no sentido de perplexo. Também palavras novas que designam novos objetos, invenções, técnicas, etc, e que têm uma formação distinta da que se verificou em Portugal. São exemplos ônibus por oposição a autocarrotrem por oposição a comboiobonde por oposição a eléctrico ou aeromoça por oposição a assistente de bordo.

E os brasileirismos semânticos, palavras que, sem perderem o seu significado tradicional, enriqueceram-se com uma ou mais acepções novas no Brasil. Por exemplo, virar também significa transformar-se em e prosa é também utilizado com o sentido de loquazconversador.
Alguns regionalismos derivam de contato com os países vizinhos como, por exemplo, “matambre”, forma sincopada de “matahambre”, vocábulo corrente na região do Rio da Prata, definido como capa de carne que se encontra entre o couro e as costelas do gado bovino. Ou vocábulos como peleia, melena, macanudo, entrevero, presentes no dialeto gaúcho, influenciado principalmente pelo castelhano, italiano e alemão.

Além da influência de outras línguas, o português brasileiro vai criando e incorporando vocábulos próprios que traduzem nossa realidade social, política, cultural, comportamental, regional, etc., como por exemplo, “motoqueiro”, “frentista”, “boia-fria”, “edícula”, “favela”, “sertão”, “retirante”, “colarinho-branco”, “ficha-limpa”, “blitz”, “bafômetro”, "vestibular", "medalhar" (ser premiado com medalha), etc. Alguns neologismos têm vida curta, enquanto outros acabam sendo recolhidos e reconhecidos pelos dicionários.

Como proceder ao traduzir um brasileirismo?

Como se trata de uma palavra peculiar e inerente ao português do Brasil, acredito que o tradutor não deva descaracterizá-lo, por isso, uma boa opção seria conservar o termo no original, acompanhado de uma breve explicação.

pt.wikipedia.org
culturaacoriana.blogspot.com
Brasileirismos e regionalismos, de Ana Maria Pinto Pires de Oliveira
A presença de africanismos na língua portuguesa do Brasil, de Ana Paula Puzzinato e Vanderci de Andrade Aguilera.
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 3.0
www.ciberduvidas.iscte-iul.pt
http://www.dicionarioetimologico.com.br/cafune/

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Falso amigo: espantoso


Um fato curioso em línguas tão semelhantes como o português e o espanhol é quando um mesmo vocábulo, compartilhado por ambos, adquire sentidos diferentes por razões históricas ou culturais.

Isso ocorre, por exemplo, com o vocábulo “espantoso”. Ambos os idiomas compartilham as mesmas acepções: basicamente, referem-se a algo ou a alguém que causa uma impressão de admiração ou de espanto.

No entanto, enquanto em espanhol, convencionou-se que uma coisa “espantosa” é algo horrível ou terrível; em português lusitano, é algo maravilhoso, extraordinário, impressionante ou genial. Assim, quando alguém diz, em espanhol. que faz um "calor espantoso", quer dizer que faz um calor terrível, insuportável. Ou ainda, quando alguém diz, em espanhol, que assistiu a "una película espantosa", significa que o filme era horrível.

Por outro lado, se um lusitano diz que "a doutora Beltrana de Tal é uma mulher espantosa", trata-se de um elogio, significa que ela é admirável, maravilhosa; por outro lado, o mesmo adjetivo, dito em espanhol, significa horrorosa

Se você procurar por um restaurante ou hotel em Portugal no TripAdvisor, não se surpreenda se encontrar um local com um excelente avaliação, que destaque o "atendimento espantoso". Significa que é maravilhoso, impressionantemente bom. Veja um exemplo aqui.

Veja abaixo um comentário publicado numa página portuguesa sobre a escolha de Emma Watson pelo site AskMen.com, em 2014, como a primeira colocada de uma lista das 99 mulheres mais desejadas por sua beleza e personalidade:

A actriz Emma Watson encabeça a lista das 99 mulheres mais espantosas do mundo elaborada pelo site AskMen.com. A publicação reconhece assim a sua luta pelos direitos das mulheres, especialmente levada a cabo na campanha HeforShe das Nações Unidas.

“Rica, bem sucedida, famosa, com estilo, bonita, inteligente, com personalidade, simpática”, eis como o publisher da AskMen, James Bassil, classifica Emma Watson, justificando assim a sua escolha como a mulher mais espantosa do mundo. (flagra.pt)

Agora, veja o título de uma notícia funesta publicada no site epmundo.com sobre uma mulher que comprou uma geladeira com um cadáver dentro:
Espantoso! Una mujer compra un congelador con un cadáver adentro (sic)" (epmundo.com)

Vejamos mais um exemplo, desta vez, de duas traduções de um trecho do romance The Pale Horse, de Agatha Cristhie. A primeira é uma publicação portuguesa, a seguir, uma versão em espanhol.

“Disse que claro que me lembrava de Miss Grey.
— Uma mulher espantosa. Uma mulher realmente espantosa. Muito talentosa. Ela vai querer algo que a sua esposa tenha usado, uma luva, um lenço, qualquer coisa assim...”

"Le contesté que sí, que, desde luego, la recordaba.
- Una mujer desconcertante, verdaderamente -comentó Bradley-. La naturaleza le ha dado unos poderes excepcionales. La señorita Grey necesitará una prenda personal de su esposa… Un guante, un pañuelo…"
.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Curiosidades da língua espanhola "en blanco y negro"


Você sabia que em espanhol a locução consagrada é "en blanco y negro" ao contrário do português em que dizemos "em preto e branco"?

Veja como o dicionário da RAE registra esta locução:

fonte: dle.rae.es/?id=5eNsBBo


Exemplos:

La fotografía en blanco y negro, en ocasiones abreviado como B / N o en inglés B/W (de black y white), es una frase adjetiva utilizada sobre todo en cine y fotografía para describir varias formas de tecnología visual. La fotografía en blanco y negro se caracteriza por la ausencia de colorido, debido a su naturaleza química, que se compone de haluros de plata. (Wikipedia)


"Cuanto me alegro
de que pintes conmigo en blanco y negro
graffitis en los muros del planeta
y si falta un color en mi paleta
regálamelo tú." 
(Primeira estrofe da música "En blanco y negro", letra de Joaquín Sabina, interpretada por Pablo Milanés e Victor Manuel)

Outra expressão consolidada em espanhol com essas duas cores é "negro sobre blanco", que significa "por escrito", e por extensão, claramente, de forma que não restem dúvidas.

Exemplo:

Vale, tu juras y perjuras que me devolverás el dinero que te voy a prestar, pero prefiero que la promesa la hagas por escrito, negro sobre blanco, para que luego no haya equívocos. (Diccionario de dichos y frases hechas, de Alberto Buitrago)



sexta-feira, 6 de maio de 2016

Palabras con acepciones dispares


La relación entre la palabra y su significado tiene razones que nuestra razón desconoce, en algunos casos, es totalmente arbitraria, o sea, no tiene un motivo, es puramente convencional, e incluso puede suceder que una misma palabra abarque acepciones parcial o totalmente contradictorias, o más bien, dispares.

Sin contar con el lenguaje literario, en que para lograr expresividad  las palabras sobrepasan su sentido ordinario y cobran sentidos figurados. Incluso se puede afirmar algo con la intención de expresar justamente lo contrario, mediante el recurso de la ironía.
Por eso, traducir palabras aisladas es una tarea prácticamente imposible y muy propensa a confusiones, ya que el significado se extrae del contexto.

La lengua está viva y las palabras sufren cambios semánticos a lo largo del tiempo y según el contexto en que se utilizan. Las principales causas de estos cambios son las siguientes:

1) históricas, muchos objetos y costumbres cambian de uso a lo largo del tiempo, por ejemplo, la palabra satélite, que proviene del latín satelles, vocablo que significaba ‘lo que estaba en torno o alrededor de alguien’ y antiguamente se utilizaba para designar a los soldados o guardias encargados de proteger a los reyes y soberanos. La moderna pluma de escribir mantiene ese nombre en referencia a las plumas de ave utilizadas antiguamente para escribir, aunque el objeto haya cambiado a lo largo del tiempo, se mantuvo el mismo nombre.

2) Sociales, una palabra que en el lenguaje ordinario tiene un significado general, puede tener un significado más específico  según el área en que se aplica. Por ejemplo, la palabra faena, significa trabajo; pero en el lenguaje taurino designa la manera de torear en un momento dado.

3) Psicológicas, la causa psicológica más notable es el tabú, es decir, cuando por motivos como superstición temor, política o pudor, las palabras son “prohibidas" y sustituidas por otras, consideradas más adecuadas. Así sucedió, por ejemplo, con la palabra retrete, que al asociarse con palabras malsonantes, se ha sustituido por eufemismos como cuarto de baño, lavabo, servicio, baño. Por motivos supersticiosos se utiliza bicha por culebra o serpiente y por razones sociopolíticas se utiliza productor por obrero o reajuste por subida de precios.

4) Literarias, por motivos de expresividad, el lenguaje literario utiliza los cambios semánticos con asiduidad, dando lugar a la metáfora (Los luceros de tu cara. Luceros = ojos) y a la metonimia (El espada actuó bien. Espada = torero).

Dejando a un lado las razones de los cambios semánticos, veamos algunas palabras que abarcan significados dispares o contradictorios:

Sancionar: esta palabra por una parte significa autorizar o aprobar un acto, uso o costumbre; y por otra parte aplicar un castigo o una pena a alguien o a algo que infringe la ley.

Ejemplos:

La Ley Sáenz Peña, sancionada por el Congreso de la Nación Argentina el 10 de febrero de 1912, estableció el voto universal secreto y obligatorio para los ciudadanos argentinos varones, nativos o naturalizados, mayores de 18 años de edad, habitantes de la nación y que estuvieran inscriptos en el padrón electoral (con el sentido de aprobar)

Hamilton recibirá una sanción de 5 posiciones en la parrilla del GP de China (con el sentido de castigo).

Oler: El verbo oler, en español, se refiere tanto a la acción de percibir un olor por el sentido del olfato como a la acción de exhalar una fragancia que deleita o un hedor que molesta.

Ejemplos:

Policías dicen que el autor del doble crimen "olía a alcohol pero no estaba borracho" (con el sentido de exhalar hedor)

Los perros huelen mil veces mejor que los humanos. Para un perro, oler el suelo es la mejor manera de saber las últimas novedades de la banda. Impedir que un perro huela el mundo al su rededor es como impedirlo de conocer las características del local donde vive (con el sentido de captar fragancias por medio del olfato)

Alquilar: El verbo alquilar se refiere tanto a la acción de cobrar dinero para ceder un bien temporalmente como a la acción de pagar un precio acordado para usar algo temporalmente.

Ejemplos:

Para conocer bien los alrededores, lo mejor es alquilar un coche (con el sentido de pagar para usar)

Con esta crisis, no nos queda más remedio que alquilar nuestra casa de playa (con el sentido de cobrar para ceder)


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A diferença entre "calidad/cualidad" e "calificar/cualificar", em espanhol


Enquanto em português temos um único verbo “qualificar” e um único substantivo “qualidade”; em espanhol, temos dois verbos “calificar” e “qualificar” e dois substantivos “calidad” e “cualidad”. Isso costuma causar bastante confusão entre os lusófonos, por isso, vamos ver em que situações devemos usar cada um dos verbetes.

Quando nos referimos às propriedades que permitem avaliar o valor de algo, ou para expressar juízos de valor a respeito de um produto ou serviço, devemos usar a palavra “calidad”. Assim, um produto pode ser de boa ou má “calidad” e todos os produtos e serviços devem passar por um “control de calidad” antes de chegar às mãos do consumidor ou cliente. Lembrando que as traduções também devem passar por um controle de qualidade para que possamos oferecer um trabalho consistente.

Quando nos referimos às características de algo ou alguém, ou seja, às propriedades, aos atributos distintivos que distinguem um ser ou um objeto, devemos usar a palavra “Cualidad”. Também usamos essa palavra para destacar qualidades positivas, assim quando dizemos “Una mujer con muchas cualidades”, estamos dizendo que ela tem muitas virtudes.

Agora, a diferença entre “calificar” e “cualificar”. Usamos o primeiro termo para referir-nos ao ato de apreciar ou determinar as qualidades ou circunstâncias de algo ou alguém, por outro lado, usamos o segundo termo — “cualificar” — para referir-nos ao ato de oferecer a alguém o conhecimento necessário para desempenhar um trabalho.



Exemplos:

Cada año 17.000 alumnos salen de las aulas de la FP, directos a un mercado que, de cada 100 puestos de trabajo, demanda 78 con este tipo de cualificación, y con la vista puesta en un escenario de 2020 en el que según la UE sólo uno de cada diez personas sin cualificar encontrará trabajo en Euskadi. (GOROSPE, Pedro. Menos asignaturas y más proyectos. El país digital. 7 de diciembre de 2014. Disponível em: http://ccaa.elpais.com/ccaa/2014/12/07/paisvasco/1417973708_972536.html).

Carmen González Enríquez, catedrática de Ciencia Política en la Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), se acercó a esta cuestión a raíz del debate público abierto por la cobertura informativa que se ha prestado a la partida de investigadores (la llamada fuga de cerebros) y, en general, de profesionales cualificados. (PRATS, Jaime. ¿A cuántos españoles ha expulsado la crisis? El país digital. 17 de enero de 2014. Disponível em http://sociedad.elpais.com/sociedad/2014/01/17/actualidad/1389990285_962730.html).

Hay que tratar de mantener una actitud neutral, de “no juzgar”, de no calificar con connotación positiva o negativa cada pensamiento o sensación. Por ejemplo: “esto es un aburrimiento”, “esto no funciona”, “esto no me va a salir”, “no voy a poder”. (REYNOSO, Martín. Buceo en aguas profundas, un deporte mindfulness. Clarín digital. 17 de diciembre de 2015. Disponível em http://www.clarin.com/buena-vida/ser-zen/Buceo-aguas-profundas_0_1486651466.html).

domingo, 3 de janeiro de 2016

A contribuição da tradução para a consolidação do castelhano

Assim como a tradução da Bíblia por Martinho Lutero foi fundamental para a consolidação do alemão, o movimento de tradução que se deu na Espanha, principalmente em Toledo e Sevilha, no século XII pelos latinos e no século XIII pelos alfonsíes foi fundamental para a consolidação do castelhano. Os possíveis fatores que contribuíram para esse movimento de tradução foram a pluralidade linguística e multicultural, pois nessa época conviviam na região árabes, judeus e hispanos, e com eles, três religiões distintas: islamismo, judaísmo e cristianismo.

O árabe era falado entre os muçulmanos cultos, e o romance, língua vernácula derivada do latim, era falado pelas classes populares (com a invasão romana da península, a partir de 218 a.C. até o século IX, a língua falada na região era o romance, uma variante do latim que constitui um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas —português, castelhano, francês, etc.). O clero falava e escrevia em latim. As línguas vernáculas coexistiam com as línguas cultas exercendo cada uma suas respectivas funções.

No século XII, as traduções são patrocinadas pela Igreja, as traduções eram feitas pelos latinos, especialistas nas matérias traduzidas, mas que não eram completamente especialistas em línguas. O clero busca a consolidação da fé cristã, assim, as traduções passam pela censura, e algumas obras consideradas pagãs são traduzidas somente com o objetivo de criticá-las e aniquilá-las. Traduzia-se do árabe ao latim, os arabistas davam uma versão oral em língua vulgar — romance —, e o latinista traduzia essa versão oral ao latim. Assim, aquele que escrevia a tradução não conhecia necessariamente a língua de partida.

Durante o século XIII, apesar de ser uma época de extrema intolerância e violência — com a Inquisição e as Cruzadas — o rei Afonso X, conhecido como “o sábio”, estava interessado no conhecimento e em promover o desenvolvimento cultural da Espanha.  

Afonso X, el Sabio
Afonso X patrocinou a Escola de Tradutores de Toledo — uma academia onde judeus, muçulmanos e cristãos podiam trabalhar juntos—, e para facilitar seu trabalho, o  rei fundou uma das primeiras bibliotecas do mundo mantidas pelo estado. O rei escolhia os tradutores e as obras a serem traduzidas, revisava as traduções, promovia debates intelectuais e patrocinava a criação de novas obras.

Eruditos muçulmanos já haviam traduzido para o árabe as obras mais importantes das civilizações grega, indiana, persa e síria. Esse conhecimento ajudou os muçulmanos a se desenvolver nas áreas de matemática, astronomia, história e geografia. A Escola de Toledo procurou explorar esse conhecimento traduzindo importantes escritos árabes principalmente ao romance.

Com Afonso X, o latim, a língua da Igreja, perde seu monopólio de língua do saber. Afonso queria que aquelas traduções fossem entendidas pelo povo em geral. Essa iniciativa fez com que o idioma castelhano se tornasse uma língua científica e literária. Assim, conseguiu-se mudar o conceito geral de que o latim era a língua culta.

Os tradutores alfonsíes adotaram diferentes formas de tradução: tradução ao romance, retradução e adaptação. Afonso X deu grande importância ao trabalho de tradução dos judeus, pois estes não eram especialistas somente em matérias, mas também em línguas. Era um trabalho muito árduo, já que nessa época os tradutores não contavam com obras de referência como dicionários e enciclopédias e raramente tinham acesso aos originais.

As traduções alfonsíes desempenharam um importante papel na constituição da língua castelhana, criaram terreno para a criação de uma literatura nacional e para a consolidação da soberania nacional com a escrita da Historia general de España, bem como no desenvolvimento de um pensamento religioso que começa a se distanciar do clero através da tradução do Velho Testamento pelos tradutores judeus.

Assim, a tradução foi responsável pela produção textual, pois além de transferir textos de uma língua a outra, trouxe também para a língua-alvo novos procedimentos estilísticos, modelos narrativos, critérios estéticos, bem como novas noções literárias, científicas y filosóficas. A tradução também enriqueceu sobremaneira o léxico do castelhano, pois além dos empréstimos e transliterações, foram criados inúmeros neologismos para dar conta das novidades científicas e culturais que a língua vernácula não tinha até então.

Os trabalhos latinos e alfonsíes abriram caminho para o que hoje é a civilização ocidental. Desenvolveram no leitor da Idade Média novos hábitos linguísticos, levando-os a pensar, sentir, escrever e agir segundo as noções e conceitos da língua-fonte, integrando-os a seus próprios esquemas de pensamento.

Os erros que por vezes surgiram em textos traduzidos duas vezes, do árabe para o castelhano medieval, e deste para o latim, eram insignificantes em comparação com gloriosa missão cumprida de ponte cultural.

Fontes:
FILOSOFÍA E HISTORIA EN LA PRÁCTICA DE LA TRADUCCIÓN - Martha Lucía Pulido Correa.
Pequena história das grandes nações – Espanha – Otto Zierer.
A busca de um rei pela sabedoria – Despertai!, 2007.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Reflexões sobre profissões e alguns nomes despectivos em espanhol

Theodoor Rombouts, El charlatán sacamuelas

Recentemente li um artigo de um jornalista, do jornal espanhol ABC, que comentava sobre os modismos relacionados aos nomes das profissões e fazia um elogio aos dentistas que se anunciavam como tais nos classificados do jornal, em lugar de usar os títulos de “odontólogos” ou “estomatólogos” (do grego "stoma", boca). Muitas pessoas acham que “estomatólogos” são os médicos do estômago e não dentistas.

E assim ele continuava o desabafo, dizendo que agora os “consejeros delegados” das empresas são os “CEO”; que os “Jefes de Personal” são os “Directores de Recursos Humanos”; os “Jefes de Prensa”, “Directores de Comunicación”; e os “relaciones públicas”, “Directores de Relaciones Institucionales”.

Aqui no Brasil não é diferente, agora os treinadores são "coach", os corretores são os “agentes ou consultores imobiliários”. Tradutor agora é “consultor de assuntos linguísticos”, pedagogo é “consultor de avaliação em projetos educacionais”, organizador é “consultor de organização de guarda-roupas ou personal organizier”, feirante é “consultor de assuntos hortalísticos”, catador é “consultor de reciclagem” e por aí vai...

Eu fico me perguntando se uma pessoa comum que precisa de um serviço de tradução vai procurar no Google por um tradutor ou por um consultor de assuntos linguísticos? Há outras profissões que são verdadeiros mistérios, os "brokers", por exemplo; nos mercados financeiros, são operadores individuais; no setor de transporte marítimo, intermedeiam fretamentos; numa empresa ou indústria é o indivíduo que cuida das vendas, promoções, marketing, pesquisa de mercado, crédito e cobrança, armazenamento e distribuição, ou seja, é pau para toda obra. Outros que também são faz-tudo 
são os que trabalham no "staff", ou seja, na equipe de apoio, principalmente em eventos, auxiliares que podem executar as mais diversas tarefas, tais como as instalação de som e iluminação, manutenção de equipamentos de informática, cadastramento de participantes, auxílio nas apresentações audiovisuais, cafezinhos, etc. .

Os estabelecimentos também não são mais os mesmos, o açougue agora é “boutique de carne”; o famoso frango assado conhecido como televisão de cachorro virou ”rotisserie”; o salão de cabeleireiro virou “coiffeur”, e os “bota-fora” agora são “outlets”...

Bom, é verdade que não se trata apenas de embelezar o nome das profissões para atribuir-lhes mais importância, o fato é que muitas profissões evoluíram e se aperfeiçoaram juntamente com os nomes, antigamente a moça que fazia as sobrancelhas se limitava a arrancar os pelos com a pinça. Hoje as “designers de sobrancelha” fazem um estudo de sua geometria facial, definindo o formato de sobrancelha ideal para valorizar seu rosto, há cursos específicos para isso. 

Assim como em português temos apelidos pejorativos para os maus profissionais, por exemplo, para advogado, temos “chave de cadeia”, em espanhol, também temos alguns nomes despectivos consagrados para algumas profissões:

Advogados = “picapleitos
Funcionários e administradores = “chupatintas
Médicos = “matasanos
Dentistas = “sacamuelas
Policiais = “maderos
Psicólogos ou psiquiatras = “comecocos ou loqueros
Urólogos = “tocapelotas
Pedreiro = “tapabujeros
Cirurgião = “sacapotras
Trabalhador da pedreira = “picapedrero
Clérigo que se mantém assistindo a enterros = “saltatumbas”.

Antes que digam: não vai falar dos tradutores?

Não conheço um substantivo específico para o mau tradutor em espanhol, mas sim uma famigerada frase em italiano "traduttore, traditore" que significa literalmente "tradutor, traidor", que passa a ideia de tradutor como enganador.

Em espanhol exite também a expressão "trujamán" para referir-se ao ofício do tradutor, intérprete.

A palavra "trujamán" provém do árabe hispânico turguman, que designava um tipo de intérprete que atuava em transações comerciais principalmente na baixa Idade Média (séc. XIV a XV). Tratava-se de uma tradução de improviso com fins comerciais, portanto, suponho que envolvesse algumas artimanhas para superar os obstáculos econômicos e comerciais.

Pesquisando um pouco mais, vi que em "lunfardo" (gíria argentina e uruguaia) existe o termo "trucho" para referir-se a algo de péssima qualidade ou falsificado, que, por sua vez, se originaria do español arcaico "truchimán", que, por sua vez, deriva do árabe "turgumán", do qual já falamos acima, mas desta vez com o sentido despectivo de uma pessoa que assedia e seduz os extrangeiros para ludibriá-los.

Enfim, nenhuma profissão escapa aos preconceitos, assim como aos maus profissionais.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

¿Empezar, comenzar o iniciar?


Os verbos empezarcomenzar e iniciar são sinônimos em espanhol, mas existem algumas particularidades para cada um.

1)    Empezar e comenzar significam exatamente a mesma coisa. A diferença está no uso: na Espanha prefere-se o verbo empezar, deixando comenzar para textos literários. Por outro lado, na América Hispânica prefere-se o verbo comenzar.
En España, el verano empieza el 21 de junio.
En Argentina, el verano comienza el 21 de diciembre.

2)    O verbo iniciar é considerado mais culto e se usa com o sentido de “poner en marcha”, ou seja, de colocar em andamento.
El gobierno inició las negociaciones.
Los trabajadores iniciaron una huelga.
El usuario inició su sesión en el chat.
Tras iniciar la aplicación, ejecute las instrucciones siguientes.

Observação: o vocábulo “inicializar”, frequente na informática, é uma imitação do inglês (initialize), já foi recolhido pelo dicionário da RAE, e significa preparar um programa para trabalhar com ele.

3)    Os verbos empezar e comenzar formam locuções com o infinitivo; o verbo iniciar, não:
Casillas empezó a jugar en el Real Madrid en 1990 (= comenzó a jugar, mas não inició a jugar)

4)    Os três verbos constroem-se do mesmo modo quando são transitivos diretos, ou seja, quando a ação recai sobre um objeto direto:
Juan comenzó su trabajo.
Juan empezó su trabajo.
Juan inició su trabajo.

Mas, quando usados como intransitivos, isto é, sem objeto direto, constroem-se de forma diferente, porque o verbo iniciar, nesse caso, é pronominal; ou seja, exige preposição.

Vejamos os exemplos:
La reunión comenzará/iniciará en dos horas.
La reunión se iniciará en dos horas. (intransitivo pronominal)

5) A construção ponerse a + infinitivo também significa "começar", usa-se para referir-se a algo que ocorre inesperadamente, de forma espontânea:
De pronto el cielo se oscureció y se puso a llover torrencialmente.
El niño se cayó y se puso a llorar.
Cuando terminó su discurso, todos se pusieron a aplaudir.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Distinção entre os verbos “crear” e “criar” em espanhol

Diferentemente do português que têm somente o verbo criar, o espanhol tem dois verbos:  “crear” e “criar”, que apesar de compartilharem a mesma origem, ‘creare’ (engendrar, fazer, produzir, nascer). Por sua vez, esse verbo procede do grego ‘kepao’ (misturar, fazer um composto). Em sânscrito, temos ‘kre’ (fazer). Desse mesma origem, derivaram duas ações similares: ‘crear’ (inventar a partir do nada ou com uma grande transformação) e ‘criar’ (manter, nutrir, educar, cuidar um ser vivo).

Da mesma forma, também existem dois substantivos diferentes “creación” (obra de engenho, arte ou artesanato, produzida a partir do nada) e “cría/crianza” (ação e efeito de cuidar uma criança ou um animal). Para plantas, prefere-se o verbo “cultivar”.
O surgimento da forma “crear” se deu por eruditismo.

Vejamos alguns exemplos de uso dos dois verbos e os respectivos substantivos:

Crear / creación
Dios creó el mundo en siete días.
Investigadores crearon una tecnología para poder "hablar" por celular en silencio.
¿Has logrado crear una cuenta en Facebook?
Estoy haciendo un curso para crear páginas de Internet.
La creación literaria es un fenómeno que se produce en todas las culturas.

Criar / cría, crianza
Hoy en día se necesita mucha valentía para criar a los hijos.
La crianza de ganado caprino representa una actividad principal e importante fuente de alimentos.
La crianza de los hijos es la acción de promover y brindar soporte.
He comprado un libro sobre la cría de gallinas.

La crianza de los hijos es una de las tareas más difíciles y reconfortantes del mundo

Para encerrar, uma frase em que aparecem as duas formas verbais e um substantivo:


Estamos participando en un seminario para criar peces ornamentales, luego crearemos nuestro propio criadero.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Regionalismos hispanoamericanos: PIPOCA

Palomitas de maíz
Na Espanha, assim como em outros países hispano-americanos, o milho estourado é conhecido como “palomitas de maíz” (pombinhas de milho) devido à cor branca e à leveza. É um nome muito fofo, não? Mas como serão conhecidas nos demais países hispanofalantes? Quem as terá inventado?

Ricas em fibras, companheiras habituais para assistir a filmes no sofá, quem é que não gosta das milenares pipocas? Carameladas, amanteigadas, acompanhadas de guaraná ou de chicha (bebida à base de milho fermentado, pode ser alcoólica ou não), ou com molho picante (em México, onde mais poderia ser?), o fato é que a pipoca é praticamente uma unanimidade!
Mas como surgiu o costume de estourar o milho?

Alguns dados históricos:

Em México, nas cidades pré-hispânicas eram vendidas a granel como leguminosas y eram conhecidas como momochtli (no idioma náhuatl). Eram preparadas no momento, ao colocar o milho em panelas de barro muito quentes ou sobre brasas. Na península de Yucatán, os maias também usavam a pipoca com fins rituais e gastronômicos.

Na Colômbia, durante a época pré-colombiana, eram consumidas como aperitivo nas festas populares, acompanhadas de chicha ou de outra bebida. Durante a época colonial, os conquistadores encontraram restos de pipocas em túmulos de mais de 1500 anos.

No antigo Peru, vários povos preparavam pipoca bem antes da chegada dos espanhóis, foram encontrados em túmulos restos delas mais de 1.000 anos. Arqueólogos encontraram também panelas para pipoca pertencentes à cultura Moche que datam de 300 d.C.

Em 1948, dentro das cavernas de morcegos no Novo México, foram encontradas pipocas de 3600 a.C., portanto, é possível concluir que existiam muito antes do que se imagina.

Em 1492, Cristóvão Colombo descobriu que os aborígenes americanos elaboravam chapéus e corpetes, que eram vendidos posteriormente aos marinheiros.

Perto de 1612, os franceses afirmaram que os índios iroqueses, nativos da América do Norte, estouravam o milho em potes de argila, usando areia quente. Informaram também que durante um jantar iroquês, consumiam cerveja e sopa feitos de pipocas.

Os primeiros colonos norte-americanos comiam pipocas no café da manhã, com açúcar e creme.
Em 1885, Charles Cretors de Chicago, nos Estados Unidos, patenteou uma máquina para fabricar pipoca.

O costume de comer pipoca nos cinemas tornou-se moda nos Estados Unidos em 1912.

Fontes:
www.popcorns.es
viajes.elpais.com.uy
www.culturizando.com