Ao traduzir textos
turísticos, procuro manter o sabor local, afinal os turistas viajam pelo prazer
de sair da rotina, de mergulhar em outra culturas, de experimentar o exótico e o
diferente. Apesar da aparente simplicidade dos textos turísticos, sua tradução
implica diversas dificuldades:
Nomes próprios
de locais turísticos, topônimos, logradouros, etc.
Esse é um terreno
movediço que costuma gerar muitas dúvidas entre os tradutores, já que não há uma
regra pétrea para isso. Basta dar uma olhada por aí para ver que há diversos
padrões adotados, alguns os traduzem, outros os transcrevem ou transliteram,
isto é, os adaptam a outro sistema de caracteres; mas, de modo geral os
topônimos costumam ser deixados na língua original ou se traduzem quando já existe
uma forma assentada, como, por exemplo, Río de Janeiro, em espanhol, com acento
no “i”.
Quando traduzo textos
turísticos do português ao espanhol, geralmente mantenho os topônimos e nomes de
locais turísticos em português, em itálico, para não descaracterizá-los, já que
nos mapas, placas e guias turísticos, geralmente esses nomes aparecem em
português. Além disso, faz parte da aventura turística arriscar-se a pedir
informações na língua estrangeira.
Já pensou onde o
turista pararia se perguntasse pela Sierra del Carpiño, em lugar da Serra da
Capivara, ou se perguntasse pelo Peñasco del Mono, em lugar do Morro do Macaco,
ou pelo pico del Sombrero del Obispo, em lugar de Chapéu do Bispo, não dá, né?
Descaracterizaria totalmente o local. Por outro lado, alguns locais já tem sua
tradução assentada, como Bahía de Todos
los Santos, Pan de Azúcar, Cataratas del Iguazú, etc. Então, de
modo geral, não traduzo nomes de topônimos ou locais turísticos, a não ser que
receba orientação em contrário do cliente ou que já exista tradução assentada.
Do mesmo modo, prefiro deixar o nome todo em português Palácio da Justiça,
Museu de Arte da Bahia, Praça da Sé, Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos,
etc. a usar uma forma mista “Plaza de la Sé”.
Também prefiro não traduzir nomes de biomas e de paisagens regionais, tais como Mata das
Araucárias, sertão, caatinga. Mas sim daquelas formações geográficas que
existem em espanhol: mangue (manglar);
floresta (selva); falésia (acantilado), etc. Se o nome do acidente geográfico
faz parte de nome próprio, não traduzo (ex.: Mangue Seco).
Regionalismos e expressões culturais intraduzíveis
Diante de regionalismos ou expressões culturais intraduzíveis como capoeira, tacacá, forró, bumba
meu boi, o que faço é usar a grafia original em itálico, acompanhada de uma
breve descrição entre parêntesis, que possa passar uma ideia do que se trata: tacacá (caldo de tucupi
con camarones secos y jambu, planta que anestesia ligeramente la lengua), açaí (extracto morado que se obtiene de las bayas de açaí), jangadas (pequeñas balsas artesanales con velas coloridas), etc.
Nomes de
frutas, animais e plantas
Costumo usar os correspondentes em espanhol quando os há: peixe-boi (manatí); onça-pintada (yaguar);
anta (tapir), sucuri (anaconda); castanha-do-pará (nuez de Brasil), caju (anacardo), etc., senão deixo em itálico acompanhado de uma breve descrição entre parêntesis, quando necessário.
Expressões
idiomáticas e adjetivos
Nos textos turísticos
predominam a função referencial (informativa) e a função conativa, pois se
procura persuadir o leitor a conhecer um lugar ou a vivenciar um passeio ou uma
experiência. Assim, abundam os adjetivos (cinematográfica, formidável,
incomparável, aconchegante, etc.), expressões idiomáticas (de tirar o fôlego,
porreta, arretado, preço de banana, agito, badalação, etc.), procuro adaptá-los de maneira que surtam o mesmo efeito na língua de chegada para que o
resultado seja atraente e convidativo.
Tecnicismos
Geralmente os tecnicismos aparecem em experiências especializadas,
tais como a prática de esportes radicais que incluem equipamentos e
procedimentos específicos, como rapel, canoagem, arvorismo ou mergulho, ou ainda, experiências culinárias com ingredientes típicos
e exóticos; turismo arquitetônico, ecoturismo e observação de aves, visitas especializadas com fins científicos ou profissionais a locais como vinhedos, instalações e plantas industriais, centros de pesquisa, etc., traduções mais
complexas que requerem pesquisa de terminologia especializada.
Agora que falamos um pouco das dificuldades correntes na tradução de textos turísticos, deu para ver que se trata de uma tarefa bastante desafiadora, mas também muito prazerosa, que permite colocar-se na pele do viajante e sentir o gostinho de aventura.