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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Relato de viagem


Como promessa é dívida, e não gosto de ficar devendo, aqui estou para tentar compensar a última postagem que ficou bastante chumbrega ou, como dizem os espanhóis, bastante “chunga”... Para aqueles que não perderam seu tempo lendo-a, eis o resumo da ópera: após um longo tempo sem postar, eu pretendia escrever um agradável relato sobre minha recente viagem à Espanha, mas o resultado foi um texto estapafúrdio, sem pés nem cabeça.

Acho que estou um pouco fora de forma, já que escrever é um exercício que requer assiduidade, principalmente quando não se tem o dom.

Tentarei ser menos prolixa desta vez.

Saí de Brasília no dia 28/07, um sábado. Chegando a Guarulhos, eu teria de encarar oito horas de espera em conexão, o que não me preocupava, uma vez que estava preparada, munida do meu Kindle. Naquela ocasião eu lia Caninos brancos, de Jack London, e estava bastante envolvida pela narrativa, assim, minha preocupação maior era distrair-me e perder a conexão. Primeiramente fui até o balcão da Air China, a empresa que me levaria até Madri, para despachar logo as malas. No entanto, o check-in só começaria quatro horas antes do voo. Sendo assim, não me restou outra opção senão ficar com as malas até lá.

Após oito horas de espera, consegui terminar Caninos brancos e praticamente li mais um livro inteiro, Senhor das Moscas, de Willian Golding, indicação do meu filho mais velho. Os dois livros são muito bons e ambos abordam a temática da luta pela sobrevivência. O primeiro ressalta a forma como a luta pela sobrevivência condiciona o caráter; o segundo, a forma com tal luta influencia na coletividade e se reflete na disputa pelo poder e pela liderança.

Minha nossa, desculpem, senhores passageiros, eu disse que seria menos prolixa desta vez...

Vonn... Pronto, cheguei a Madri!

Uma das partes mais tensas é pegar as malas e passar pela alfândega, principalmente se você leva duas malas grandes repletas de itens preciosos supostamente passíveis de confisco: paçoquinhas, pipoca doce, pé de moleque, melado, goiabada, castanha-de-caju, castanha-do-pará, doce de cupuaçu, biscoito de polvilho, sagu, requeijão, carne seca, linguiça calabresa, ingredientes para feijoada, feijão, farofa, três garrafas de cachaça, limão... Fora isso, mais de uma dúzia de havaianas!

Ufa, passei pela alfândega! Agora a pior parte: formar a fila para passar pela migração. Como me naturalizei brasileira, vou para a fila “minhocão” destinada a todos aqueles que não têm passaporte europeu... Meus pensamentos obsessivos se voltam para o ípsilon intruso no nome da minha mãe (ver postagem anterior). Beleza! Meu passaporte é carimbado e agora bem a melhor parte: o encontro com minha irmã e sobrinhos, que já estão me esperando no saguão! Beijos, abraços e selfies!




Do aeroporto nos dirigimos para a casa da minha irmã, em Soto del Real, município da província e Comunidade de Madri, situado na face sul da Serra de Guadarrama. Ficamos por lá dois dias para encontrar-nos com a minha tia e família que moram próximo dali, em Las Rozas. A seguir, partimos rumo a San Juan, uma cidade litorânea que faz parte da Comunidade de Valencia, província de Alicante, na costa mediterrânea do sudeste da Espanha. Vamos para a casa da nossa avó, onde nos encontramos com nossa querida vozinha, nossa outra tia, primas e suas respectivas famílias. A turma é grande, mas minha tia já tem tudo organizado e sob controle.

Os dias são longos, durante o verão a luz solar só se apaga perto das dez da noite. Assim desfrutamos das férias dividindo-nos entre praia, piscina, comidas, siesta, sorvetes, passeios, anedotas e recordações. Momentos aprazíveis em companhia de seres queridos, quem precisa de mais?

Mas vamos aos destaques...

Em termos de comidas, cabe destacar o arroz com polvo, preparado por minha tia e o “arroz a la cubana”, outra de suas especialidades. Os mexilhões ao vapor e a chipa paraguaia, preparados por minha irmã. Os cogumelos e aspargos grelhados e o churrasco, preparados por meu cunhado. O kebab turco, que eu adoro. Os jantares fora de casa, um deles num restaurante mexicano, e o outro, num oriental. Fora as típicas “tapas” espanholas e as “jarras” de cerveja gelada. Sem falar na minha feijoada e caipirinhas, que, modéstia à parte, não deixaram a desejar. Também aproveitei para me empanturrar de aspargos em conserva, que eu adoro, e que são muito mais baratos por lá. Ah, sim! Já ia me esquecendo dos prestigiados sorvetes da Antiu Xixona, cuja cremosidade e variedades de sabores, cada um mais gostoso que o outro, trouxeram-me à memória os sorvetes da Cairu, sorveteria famosa do Pará. Destaque para o delicioso sorvete de “turrón”.

Quanto aos passeios, vale a pena mencionar o que fizemos a Altea, uma encantadora cidade vizinha, localizada no alto de uma colina, conhecida por seus sobrados brancos e ruas empedradas. O ambiente era muito acolhedor, o ar fresco, a vista cinematográfica do alto da cidade, as ruas repletas de famílias, barracas de artesanato e barzinhos. Passamos um final de tarde muito agradável, passeamos pela praça central da cidade, tomamos algo por aí e, finalmente, antes de retornar para San Juan, jantamos muito bem no restaurante de um norueguês.
Fonte:campingarenablanca.com


Fonte: 525tours.com

Fonte: media-cdn.tripadvisor.com

Outro passeio maravilhoso foi o que fizemos a Cuenca, na viagem de volta para Madri. Essa brilhante ideia foi mérito da minha irmã. Confesso que deu certa preguiça ter de desviar uns 60 km do caminho, já que fazia um calor infernal. Mas quando chegamos a Cuenca, fiquei boquiaberta com o que vi... 

Que lugar incrível! Trata-se de uma pitoresca cidade situada no alto de uma colina cercada por um profundo desfiladeiro formado pelos rios Júcar e Huenca. Destaca a parte antiga da cidade com suas ruas estreitas de pedra, a catedral em estilo gótico primitivo, o Convento das Descalças, o Museu, mas, principalmente, as famosas “casas colgantes” uns sobrados suspensos à beira do precipício. Sem dúvida, valeu muitíssimo a pena!


Acervo pessoal

Acervo pessoal
Uma coisa que chamou minha atenção, de maneira negativa, nesta viagem foi a falta de paciência de alguns comerciantes para com os clientes. Claro que não podemos generalizar, mas duas cenas contribuíram particularmente para deixar essa impressão. A primeira, num restaurante à beira da estrada, no qual os clientes escolhem um prato do dia, pagam e se dirigem para as mesas, diferente do procedimento adotado no Brasil, onde geralmente se paga ao deixar o local. Como eu não sabia disso, passei distraída pelo caixa e fui em direção às mesas. O cara do caixa vociferou: “Ei, moça, tem que passar aqui!”, e eu: “Desculpe, não sabia como funciona”, ao que ele respondeu com toda sua simpatia: “Pois funciona pagando!”... “Ah, é mesmo? Que pena, porque eu pretendia fugir correndo com o prato na mão” (PENSEI). Fala sério? Precisava de tanta grosseria?

A outra cena grotesca: o repositor do supermercado empurrava um carrinho de carga cheio de caixas quando deparou com uma senhora de idade avançada, que obstruía seu caminho. A senhora estava distraída escolhendo uns melões na banca e não o ouviu pedir licença. Após alguns instantes, ela finalmente se dá conta de que está obstruindo a passagem e diz: “Ah, me desculpe! Estava falando comigo?”, ao que ele responde: “Não, senhora. Desde pequeno tenho o costume de falar com os melões”. Dá para acreditar em semelhante azedume?

Enfim, gente azeda tem por todo lugar. Nem vou comentar do tratamento que recebemos em certa divisão de estrangeiros, porque o mau-humor é algo meio que inerente ao serviço público, principalmente quando o público-alvo é o estrangeiro. A verdade é essa: tanto no Brasil como na Espanha, salvo poucas exceções, o que se testemunha é muita má-vontade e falta de educação nessas repartições. Pronto. Está feito o desabafo.

No último dia, para fechar com chave de ouro, meu cunhado fez uma barbacoa (churrasco) no quintal para comemorar o aniversário da minha irmã, que seria no dia seguinte. Estiveram presentes minha tia e tio que moram em Las Rozas, com a filha e o filho, o qual há pouco mais de um ano se mudou para Paris e que também é tradutor. E, ainda, o tio e a irmã do meu cunhado. A conversa foi muito agradável e interessante, e boa parte dela girou em torno de curiosidades culturais e linguísticas. A comida também estava ótima e a sobremesa foi um "exótico" sagu de vinho feito por mim.

No dia 11/08 embarquei de volta para o Brasil. A viagem de volta para casa foi muito boa, repleta de boas recordações, eu estava feliz e muito ansiosa para chegar a casa e abraçar meu marido, filhos, e minha sogra que havia chegado há poucos dias para nos visitar, e nossos cachorros, que são como crianças. Nem preciso dizer que houve certo déjà-vu na viagem de volta no que se refere à passagem pela alfândega. Desta vez as malas estavam repletas de jamón, chorizo, Nutella, queso de tetilla, pipas, gominolas, regaliz, mexilhões em escabeche, vinhos, licor, leques, chocolate, presentinhos... e as famosas balinhas de Madrid — as violetas —, que, por incrível que pareça, custei a encontrar.


E para aumentar minha biblioteca profissional, minha tia-patrocinadora me presenteou com duas belíssimas obras: Hablamos la misma lengua, de Santiago Muñoz Machado, um livro que aborda a história política do espanhol na América desde conquista até as independências, e Los enemigos del traductor, da tradutora Amelia Pérez de Villar, autora do blog De libro y de hojas. O livro reúne uma série de reflexões sobre a profissão, elogios e críticas do ofício.

Além dessas joias, trouxe ainda uma figura muito representativa para colocar em minha mesa de trabalho, para dar-me inspiração e coragem nas horas de desânimo ou cansaço: quem melhor que o inexpugnável e destemido Dom Quixote?

Essa foi uma aquisição de última hora. Estava eu já na fila de embarque quando vi centenas de Dom Quixotes me encarando, pedindo para virem comigo para o Brasil. Mas, desse exército de nobres cavalheiros, contentei-me com escolher apenas um! 

Ei-lo aqui, em minha escrivaninha, meu herói enderezador de tuertos y deshacedor de agravios y sinrazones, Don Quijote, ¡el loco más cuerdo! (desfazedor de agravos e consertador de injustiças, Dom Quixote, o louco mais sensato!).


segunda-feira, 4 de julho de 2016

Traduzir receitas e cardápios

Fonte: http://panypeter.blogspot.com.br/
Simpático blog com receitas ilustradas

Aparentemente traduzir receitas é fácil, afinal, é só traduzir o nome dos ingredientes a forma de preparo e pronto!

— Ah, é?

Apesar de não ser minha especialidade, já traduzi algumas receitas, cardápios e outros textos ligados à nutrição, e pude perceber o quão complexa é essa tarefa, que implica uma série de aspectos, como: a) escolher o estilo de abordagem; b) encontrar a tradução adequada para os nomes de ingredientes regionais; c) identificar e encontrar informação sobre tecnicismos; d) esquivar-se dos falsos amigos ou falsos cognatos; e) considerar as medidas e equivalências; f) usar a criatividade para suprir lacunas em nomes de pratos e receitas; g) considerar o público-alvo da tradução: Estados Unidos, Espanha, América Hispânica?; h) cuidado com as traduções literais; entre outros. Enfim, vamos por partes:

a) escolher o estilo de abordagem;

As receitas culinárias são textos instrucionais, ou seja, descrevem procedimentos para preparar uma iguaria, por isso é fundamental que o texto seja objetivo, claro, sucinto e que não permita ambiguidade. Ao traduzir uma receita para o espanhol, você pode escolher entre: uma abordagem impessoal, utilizando o pronome “se” e o verbo em terceira pessoa (se corta en rodajas, se añade la leche, se deja enfriar, etc.) ou usando o infinitivo (cortar en rodajas, añadir la leche, dejar enfriar, etc.); ou uma abordagem pessoal, com os verbos em primeira pessoa do plural (cortamos en rodajas, añadimos la leche, dejamos enfriar, etc.) ou conjugando os verbos na segunda pessoa do singular do modo imperativo, “” (córtalo en rodajas, añade la leche, deja que se enfríe, etc.), ou ainda, usando o pronome de tratamento “usted” (córtelo en rodajas, añada la leche, deje que se enfríe, etc.). Muitas vezes essa escolha não dependerá do tradutor, mas sim do cliente.

b) encontrar a tradução adequada para os nomes de ingredientes;

Como se diz em espanhol “açaí”, “paçoca de amendoim”, “tapioca”, ou então, como se diz em português "paella", "turrón", "gazpacho", etc.? Quando se trata de comidas típicas ou de ingredientes regionais, a melhor opção é manter o termo original, acompanhado de uma descrição. 

Exemplos: 
açaí”, fruto de una palmera silvestre brasileña del cual se extrae un concentrado de color morado
paçoca de amendoim”, golosina brasileña que se obtiene al amasar harina de cacahuete con azúcar y manteca y que se deshace en la boca; 
tapioca, es la fécula de la yuca, con la cual se suelen hacer unas tortillas planas que se sirven con rellenos dulces o salados
"paella", prato típico espanhol à base de arroz, açafrão e frutos do mar.
"turrón", doce tradicional espanhol em forma de tablete, feito de amêndoas, pinhões, avelãs ou nozes torradas e misturadas com mel e açúcar.
"gazpacho", sopa fria espanhola à base de tomate, pimentão, azeite, vinagre, alho e sal, típica de Andaluzia, região do Sul da Espanha.
Como deu para ver nem sempre é possível descrever uma comida regional com poucas palavras.

Outros ingredientes ou nomes de comidas já são mais conhecidos e até apresentam versões castelhanizadas, como por exemplo, a caipiriña e a picaña.

c) identificar e encontrar informação sobre tecnicismos;

Flambar (flambear, flamear), abafar (tapar), caramelizar (caramelizar, acaramelar), marinar (marinar), cozinhar em banho-maria (cocinar en baño maría), al dente (é uma expressão italiana, não precisa traduzir), ao ponto (al punto), besuntar (untar), branquear (blanquear), calda em ponto de fio (almíbar en punto de hilo), etc. Todos esses termos constituem tecnicismos, isto é, descrevem técnicas, procedimentos e aspectos especializados que fazem toda a diferença e cuja tradução errada pode levar ao fracasso da receita. Também é importante conhecer o nome dos instrumentos utilizados: coador (colador), ralador (rallador), funil (embudo), peneira (tamiz), processador (processador), espremedor (exprimidor), moedor (picadora), pilão (mortero), espátula (espátula), descaroçador (deshuesador), etc. As variedades de arroz, massas, pães, farinhas e temperos, as formas e os pontos de cozimento (jugoso, medio cocido o al punto, bien cocido, etc.). Para encontrar a tradução desse tipo de termos, devemos consultar literatura especializada: glossários e sites da área, livros de receitas, dicionários ilustrados, etc.

Devemos considerar ainda as especificidades da língua-alvo. Por exemplo, no Brasil o termo “fatia” se aplica tanto ao pão de forma quanto ao pepino ou ao rosbife, já na Espanha, temos termos mais específicos para cada um desses produtos, assim, diz-se “una rebanada de pan de molde”, “una rodaja de pepino” e “una loncha de rosbif”.
Também é importante pesquisar os nomes dos cortes das carnes, peixes, aves, etc. A picanha, por exemplo, é um corte de carne típico brasileiro, em espanhol, chama-se “tapa de cuadril”, mas também se usa a versão castelhanizada “picaña”. Na Argentina, aprecia-se muito o “bife de chorizo”, que é um corte tradicional retirado do miolo do contrafilé em fatias grossas de aproximadamente 400 gramas.

d) esquivar-se dos falsos amigos ou falsos cognatos;

Vejamos uma pequena amostra de alguns falsos amigos encontrados no âmbito gastronômico: aliñar (condimentar), bizcocho (bolo simples), tarta na Espanha ou torta na Argentina (bolo recheado ou torta, é complicado!* veja a seguir a explicação detalhada), empanada (pastel), pastel (bolo ou doces de confeiteiro mais elaborados), estofado (refogado), pasta (massa), postre (sobremesa), sobremesa (tempo dedicado à conversa após a refeição), salsa (molho), exquisito (saboroso), pelado (descascado), tapas (petisco), mala (ruim), copa (taça), taza (xícara), vaso (copo), salada (salgada), ensalada (salada), propina (gorjeta), berro (agrião), cacho (pedaço), cubierto (talher), grasa (gordura), remover (mexer), rico (delicioso), etc.

Observação: em espanhol se diz “olla a presión” e não “olla de presión”; observar também os gêneros dos substantivos (o sal, em espanhol, é uma palavra feminina: la sal). 
Gramas, em espanhol, são gramos; e quilos, geralmente se escreve com ‘k’, kilos. Embora, existam as duas formas, com k e com q, recomenda-se usar a forma com ‘k’.

*A discussão sobre “tarta”, “pastel” e “torta” é bastante complicada... basicamente na Espanha se chama “tarta” tanto nosso bolo recheado (ex.: bolo de morango com nata) quanto nossa torta de massa fina assada recheada com creme (ex.: torta de limão). Os bolos mais elaborados ou os doces de confeitaria (ex.: com massa folhada) também podem ser chamados de pasteles. Já na Argentina, Uruguai e Paraguai, a “tarta” chama-se “torta” ; e ospasteles”,masas finas”. No Uruguai e na Argentina também existe a ‘torta frita’ que é uma espécie de panqueca achatada frita polvilhada com açúcar servida para acompanhar o “mate” (chimarrão). Outra diferença é que em Uruguai, Argentina e Paraguai  chama-se “crema de leche” o que os espanhóis chamam “nata”. Assim, o nosso “bolo de morangos com nata” seria “tarta de fresas con nata” na Espanha, e “torta de frutillas con crema” em Argentina, Uruguai e Paraguai. Complicado, não?

e) considerar as medidas e equivalências;

Felizmente hispanófonos e lusófonos usam o mesmo sistema de medidas, mesmo assim, é importante observar a tradução dos utensílios e parâmetros utilizados como medidas: cucharita, cuchara sopera (cucharada), cucharón, taza, vaso, botella, una rama, una pizca, etc.
Um exemplo de medidas que devemos adaptar na tradução de receitas do português ao espanhol são as referências que usamos, se você traduzir literalmente ao espanhol "uma colher de sopa de alho desidratado", ou seja, "una cuchara de sopa de ajo deshidratado", eles vão achar que é para adicionar uma colher de "sopa (caldo) de alho desidratado", porque em espanhol não seu usa essa expressão, mas sim "una cuchara sopera", ou ainda, "una cucharada".

f) usar a criatividade para suprir lacunas em nomes de pratos e receitas;

Como traduzir, por exemplo, “pavê nevado” ao espanhol, sendo que não existe o substantivo “pavê” nem o adjetivo “nevado” para referir-se à cobertura de claras em ponto de neve? Use a criatividade e procure um nome que seja ao mesmo tempo descritivo e apetitoso. Uma vez que você leia a receita e conheça os ingredientes, poderá encontrar uma solução como “Torta helada/Postre de galletas de champaña cubierta con merengue”.

Ou para traduzir nomes de pratos: Ensalada de escarola con ventresca de bonito y romesco (salada de endívia com barriga de atum e romesco); Montadito con chorizo y tortilla española (aperitivo de linguiça defumada, servida sobre torrada e omelete de batatas fritas).

g) considerar o público-alvo da tradução: Estados Unidos, Espanha, América Hispânica?

Ao traduzir para o espanhol é fundamental ter em conta os destinatários do texto-alvo. Vejamos, por exemplo, alguns termos do âmbito culinário que possuem versões diferentes na Espanha e na Argentina. 

Como a culinária é parte inerente da cultura de uma comunidade, também vale a pena informar-se sobre as comidas típicas e os hábitos alimentares dos países em questão, por exemplo, na Espanha é comum o consumo de carne de coelho e frutos do mar, também tem forte influência da culinária árabe, os horários das refeições são diferentes (almoço entre 14 h e 15 h /jantar às 22 h), a culinária argentina tem forte influência italiana e também consome muita carne bovina e, assim como os brasileiros, apreciam o churrasco especialidade da gastronomia gaúcha. O churrasco é temperado com “chimichurri”, um molho bem temperado à base de salsinha, orégano, alho, vinagre, pimenta calabresa, azeite e sal. Esse molho também serve para temperar o “choripán”, linguiça assada servida no meio do pão, etc.

Espanha = Argentina (Brasil).
barbacoa = asado a la parrilla (churrasco);
plátano = banana (banana);
fresa = frutilla (morango);
guisantes = arvejas (ervilhas);
maíz = choclo (milho);
melocotón = durazno (pêssego);
nata = crema de lecha (creme de leite);
piña = ananá (abacaxi);
judías = frijoles, porotos (feijão);
cacahuete = maní (amendoim);
patatas = papas (batatas);
calabaza = zapallo (abóbora);
cruasán ou “croissant” = medialuna (croissant);
refresco = gaseosa (refrigerante);
zumo jugo (suco);
tarta = torta (bolo recheado);
lima = limón (limão); etc.

h) cuidado com as traduções literais.

Nunca é demais lembrar o perigo de traduzir literalmente, palavra por palavra. A “castanha do Pará”, por exemplo, não é “castaña del Pará”, mas “nuez del Brasil”; por outro lado, a “castanha de caju” não é “nuez del caju”, mas “anacardo”. Assim como "cheiro verde" não é "olor verde", mas "perejil". A tradução de "niños envueltos" também não é "crianças embrulhadas", mas "charuto de carne", que pode ser enrolado com folha de repolho, ou parreira, segundo a tradição árabe. "Cupim ao molho madeira", em espanhol, não é "Termita en salsa madera", apesar de a "termita" ter tudo a ver com madeira... O cupim é outro corte de carne tipicamente brasileiro — a corcova do gado zebu —, e poderia ser traduzido como "joroba" ou "giba", mas sugiro deixar "cupim" como referência e acrescentar a descrição.

Deu para ter uma ideia da dificuldade, não? 

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Minha visita ao Aqueduto de Segóvia

Na postagem Crônicas de Viagem II prometi contar um pouco sobre alguns passeios que fiz em minha última viagem à Espanha, em outubro de 2015, e como promessa é dívida, aqui estou para falar da visita a Segóvia, cidade situada a 90 km de Madri e declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1985. É conhecida internacionalmente pelo aqueduto romano de 818 metros de comprimento, considerado a obra de engenharia civil romana mais importante da Espanha e um dos monumentos mais significativos e melhor conservados entre os deixados pelos romanos na península ibérica.

Aqueduto de Segóvia (foto de acervo pessoal)
O dia estava lindo e a companhia não podia ser melhor: minha tia-xará, Diana, professora de história que consegue transformar as visitas a lugares históricos e monumentos em didáticas viagens no tempo; minha avó materna, Asela, que nos deu um exemplo de determinação, superando todas as dificuldades de locomoção; e minha tia, Rosi, que é a pessoa mais parceira e animada que conheço.

Minha tia-xará, minha avó e eu (a sombra na parte superior é do dedo da Tia Rosi...rss)
Visitar Segóvia é uma experiência encantadora, é uma pequena cidade cercada de muralhas, situada num terreno elevado entre os leitos dos rios Eresma y Clamores. É um deleite para os sentidos, além do famoso Aqueduto, há uma multidão de igrejas românicas, a Catedral e o Alcácer compõem uma majestosa paisagem que domina essas terras castelhanas. 
Minha adorável companhia em frente à catedral
É um passeio de mais de 2.000 mil anos de história, cercado de ruelas, muralhas, construções renascentistas e medievais, fachadas cobertas de esgrafiados, decoração mudéjar (estilo que combina elementos cristãos e árabes) formando um desenho em relevo que remete a uma renda. Essa riqueza de detalhes requer tempo e calma para ser devidamente admirada, vale a pena chegar cedo e dedicar-lhe um dia inteiro, aproveitando a oportunidade para degustar o prato mais típico da cidade: o leitão ao forno. Aprecie com moderação, porque a caminhada será longa e é preciso disposição.
Infelizmente nosso passeio foi um pouco corrido, o objetivo era visitar o Aqueduto, assim, espero poder voltar um dia para visitar os demais monumentos e construções, pois sem dúvida alguma, vale a pena!

Fachadas com "esgrafiados"

O Aqueduto de Segóvia é uma das mais soberbas obras que os romanos deixaram espalhadas por seu vasto império. Foi construído para conduzir a água da Serra de Guadarrama até Segóvia, provavelmente na época dos Flávios, entre a segunda metade do século I e inícios do século II, na época dos imperadores Vespasiano e Trajano, a fim de transportar a água do rio Acebeda até a cidade. Seus 20.400 blocos de pedra não estão unidos por massa nem cimento algum, mantem-se num perfeito e engenhoso equilíbrio de forças. A construção atinge sua altura máxima na Plaza del Azoguejo com 28,10 m de altura e um total de 167 arcos.

Desde os tempos antigos, existem duas alcovas que provavelmente protegiam os deuses pagãos, substituídos pelas imagens de São Sebastião e da Virgem. Sob as alcovas existiu uma lenda em letras de bronze relativas à fundação da “Ponte”, da qual hoje restam apenas vestígios da inscrição.

Lenda do Aqueduto de Segóvia

Segundo a lenda, teria sido a preguiça e não Roma a mãe do Aqueduto.  Uma moça que trabalhava como aguadeira (pessoa que tinha o ofício de transportar e vender água),  cansada de arrastar o cântaro pelas ladeiras da cidade, aceitou um pacto com o diabo: ela lhe daria sua alma se a água chegasse até a porta de sua casa antes de o galo cantar.

Enquanto desabava uma tempestade, o demônio trabalhava com empenho. Arrependida, a jovem passou a noite inteira rezando pedindo perdão. Quando o diabo se preparava para colocar a pedra no último buraco, o galo cantou, livrando a alma da moça da maldição.  Arrependida, esta confessou sua culpa diante dos segovianos, que após borrifarem com água benta os arcos para eliminar o rastro de enxofre, aceitaram felizes o novo perfil da cidade. 

No buraco que ficou sem preencher é o local onde se encontra hoje a imagem da Virgem de Fuencisla.



Fontes:
Guia turístico produzido pela prefeitura de Segóvia.
http://acueducto.turismodesegovia.com/leyenda
www.spain.info
es.wikipedia.org

segunda-feira, 7 de março de 2016

Españolismos

A pesar de toda la riqueza del diccionario de la RAE, se suele criticar la resistencia de la academia en marcar los españolismos —vocablos restrictos a España— así como la resistencia en incluir americanismos. La edición anterior del diccionario marcaba más de 2 mil mexicanismos y tan solo poco más de 50 españolismos, lo que revela una relación de desigualdad, pues al dejar de marcar los españolismos se admite la prepotencia de la variante peninsular sobre las demás.

La edición actual (la 23.ª) ha avanzado y se ha enriquecido con 18 mil 712 acepciones con alguna marca de países americanos, mientras que 435 acepciones tienen marca de España. Sin embargo, esta cifra aún no corresponde a la realidad, si consideramos que hasta 2009 los hispanoamericanos sumaban 357 millones, es decir 89% de los hispanohablantes, mientras que en España había 46 millones, que representan 11%.

El escritor y traductor Felipe Garrido, miembro de la Academia Mexicana de la Lengua, integrada por las 22 academias, destaca que ha sido un logro que se haya aumentado el número de españolismos. «Es un cambio muy importante, habla de igualdad. Desde hace años se discute que no es posible que un idioma que se habla en tantos países y de tantas maneras, esté gobernado desde un solo sitio, pero ha habido una inercia enorme y se fue imponiendo la realidad, que no hay un solo español en el mundo»  (fuente: archivo.eluniversal.com.mx).

Hemos recogido aquí algunas palabras y expresiones coloquiales que constituyen españolismos. Quiero dejar un agradecimiento especial a mis queridas primas que me ayudaron a engordar la lista.



a dos velas: estar sin dinero o también para decir que no se liga nada
adrede o aposta: hacer algo con toda la intención. Lo ha hecho aposta, lo ha hecho adrede.
a mí plin: indiferencia, desinterés, que te da igual.
a ojo de buen cubero: echo de forma aproximada, sin precisión.
a toda hostia: ir rápido, a toda velocidad se usa cuando vas en coche o cuando tienes música muy alta, al máximo
al loro: estar atento, enterado de las cosas
armarse la de san quintín: cuando se forman malos entendidos, discusiones acaloradas, peleas. Expresión que alude a la batalla contra los franceses que tuvo lugar en 1557, cuando las tropas de Felipe II ocuparon la ciudad francesa de San Quintín y derrotaron a las tropas del rey francés Francisco I.
botellón: reunión de jóvenes al aire libre, en la que se consumen en abundancia bebidas alcohólicas.
bollera = lesbiana
cabrearse: enfadarse, enojarse.
cambiar el agua al canario: ir al baño.
ceporro: que es poco inteligente y tiene poca capacidad para aprender.
cerilla: fósforo.
chándal: ropa deportiva.
coger: agarrar, tomar.
colgarle el marrón a alguien: pues cargar un problema que has provocado a otra persona.
comerse un marrón: cargar con las consecuencias de un problema que quizás hayas provocado tú o tal vez no.
curro, currar: trabajo, trabajar.
chaval: muchacho.
dar caña: provocar, No le des más caña a Raquel que luego se enfada. Aumentar la intensidad de algo, usarlo mucho, El ordenador se me ha roto porque le he dado mucha caña.
de cachondeo: de juerga, de broma.
estar de coña: estar de burla.
flipar: quedarse alucinado. ¡Cómo flipa! (qué alucinante).
fliparse: creerse el mejor.
forofo: partidario, entusiasta de alguien o de algo, especialmente de un equipo deportivo.
gambas: camarones.
gilipollas, soplagaitas: idiota, imbécil.
guay: genial, bueno, estupendo.
haber ropa tendida: haber niños cerca.
hacer pellas: faltar a clases para vaguear (las pellas eran bolas de barro que cabían en el hueco de una mano y que los chicos que faltaban a clases se entretenían lanzando contra cualquier cosa).
hacer un sinpa: irse sin pagar.
hasta ahora: hasta luego.
hucha: alcancía,
irse el santo al cielo: ¡se me ha ido el santo al cielo! me he olvidado de algo completamente.
judías: chauchas.
juerga: fiesta, diversión.
liado(a): atareado(a).
liarse a piños: cuando varias personas se pegan.
ligar: tratar de conquistar a una chica o chico
ligón(a): conquistador(a), galanteador(a).
majo(a): persona agradable, simpática.
maruja: ama de casa que no se dedica a otras actividades. 
mazo: mucho, Estoy mazo cansado.
meapilas: santurrón, mojigato. Tratamiento despectivo para persona que muestra exagerados escrúpulos religiosos.
mecachis: para expresar contrariedad. Mecachis, está lloviendo. La expresión "Mecachis en la mar salada" es un eufemismo de "Me cago en lo más sagrado".
mechero: encendedor.
me la suda: no me importa.
me resbala, me la pela = me da igual
mogollón: mucho, gran cantidad. Se lo he dicho un mogollón de veces.
mola, me mola, ser molón: su origen se encuentra en el idioma caló, es decir, el hablado por los gitanos, y su significado se relaciona con el gusto o aprobación de algo. La RAE registra el verbo “molar = gustar, resultar agradable o estupendo, por lo cual la expresión "como mola" o "me mola" vienen derivadas de la conjugación del mismo y significarían: "como me gusta" y "me gusta".
moqueta: tapiz, alfombra.
movida: vida nocturna.
ni fu ni fa: expresión que indica que algo es indiferente, ni bueno ni malo.
ni de coña, ni de blas: en absoluto, de ninguna manera. 
no hay moros en la costa: no hay nadie a la vista.
ordenador: computadora.
okupa: se dice de alguien o de un movimiento social que propugna la ocupación de viviendas o locales deshabitados.
pagafantas: chico que sale con chicas pero solo consigue pagarle fantas.
pasar de alguien o de algo: no hacerle caso a alguien o a algo, dejar a un lado, ignorar.
pasota: indiferente a las cuestiones que importan o que se debaten en la vida social.
perroflauta:  persona, habitualmente joven y con aspecto descuidado, que puede verse como un hippy en su acepción más moderna (suelen llevar perros y tocar la flauta).
picarse, quemarse: enfadarse.
pirarse, darse el piro: irse, marcharse.
potar, echar la pota: vomitar.
rayarse: volverse loco, comerse el coco. No te rayes.
salir de marcha: vida nocturna, salir a divertirse por la noche.
sobar: dormir.
sudaca: adjetivo despectivo, sudamericano.
tapas: porciones de aperitivos que se sirven en los bares y restaurantes como acompañamiento de una bebida.
tener mala leche: tener un carácter insoportable, ser malhumorado.
tío(a), tronco, macho = tratamiento apelativo dado a un amigo o compañero.
un pico: un beso.
vacilar: engañar, tomar el pelo, burlarse o reírse de alguien.
vender como churros: vender muchísimo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

História da língua espanhola

Origem e evolução do Castelhano

O castelhano é uma língua românica cuja origem se encontra na evolução do latim vulgar, falado na península ibérica a partir do século III a.C. No entanto, conta com vestígios de línguas pré-romanas, faladas por povos que habitavam a península antes do processo de romanização: o chamado substrato ibero, celta, fenício, ligur. As línguas desses povos acabaram desaparecendo com sua incorporação à cultura latina, que se impôs como majoritária, com exceção do vasco, ou euskera, que manteve sua estrutura alheia ao processo de romanização. Algumas palavras que ficaram fossilizadas procedentes desses povos primitivos são: abedul, álamo, tarugo, barranco, braga, arroyo...



A maior parte da gramática, sintaxe e léxico da língua espanhola, procede do latim falado e, em menor medida, do latim culto. Poderíamos dizer que nossa língua é quase em sua totalidade uma evolução ou, melhor, uma progressiva corrupção da língua latina. Do mesmo modo que outras línguas românicas esta corrupção deu lugar a diferentes variantes em diferentes regiões mais ou menos distantes da capital, Roma, e segundo a classificação clássica das línguas românicas, é uma língua do subdomínio ocidental, e junto com o catalão, o galego, o português, e o ocitano, entre outras, pertence ao grupo das línguas ibero-românicas.

http://leerycrear.wikispaces.com/ORIGEN+DEL+CASTELLANO


Na alta Idade Média, as invasões de povos germânicos: vândalos, suevos, alanos e visigodos, deixaram certas palavras residuais na língua espanhola, embora sua influência não tenha sido muito notória na evolução geral do idioma. Os germanismos que permaneceram são: albergue, guerra, ganar, robar, rico, fresco, blanco, ropa, entre outros.

Do período árabe, conta-se com um importante corpus de palavras, além do dialeto mozárabe, que foi falado em uma grande quantidade de territórios, destes quase 8 séculos de convivência (711-1492). Assim ficaram palavras como: mazapán, albaricoque, alcachofa, alubia, aceite, algodón, taza, alcantarilla, albañil, azotea, azúcar, algodón, azul, almacén, cifra, alcohol, e muitos mais.

Dessa etapa medieval conservam-se obras de grande importância cultural, como as obras de Alfonso X, o Sábio, obras épicas como o Cantar de Mío Cid (1140), primeira obra conservada da literatura espanhola, e lírica castelhana e galaico-portuguesa. Cabe mencionar também um importante grupo de obras do Méster de Clerecía. Sabe-se que existiu uma grande tradição oral formada por poesia épica narrativa, canções de gesta e outras manifestações dos juglares (trovadores) hoje em dia perdidas ou parcialmente recopiladas.

Do período pré-renascentista conservam-se obras de autores como Juan de Mena, o Marquês de Santillana, de carácter latinizante, e outros autores de teatro, de característica mais popular. A obra mais importante dessa época é La Celestina, de Fernando de Rojas.

A formação do espanhol clássico

Em 1492, os reis católicos decidem expulsar da península ibérica todos aqueles que não se convertam ao cristianismo: árabes, judeus e demais minorias étnicas, acabando assim com um período de coexistência cultural de quase 8 séculos. Em seu afã de unificar o território de seus respectivos reinos, que será a maior parte da península, decidem tomar uma série de medidas, entre as quais se encontra a unificação linguística, além da religiosa.

Assim, encomendam a primeira Gramática de la lengua Castellana a Antonio de Nebrija, que é considera a primeira gramática da língua espanhola sistematizada e formal, em 1492. Nesta obra, tenta-se, pela primeira vez, unificar certos critérios linguísticos como as grafias, alguns aspectos gramaticais e fixar o significado das palavras.

Já no Século de Ouro, aparece a obra considerada o segundo marco na fixação normativa do castelhano: El Tesoro de la Lengua Castellana, de Sebastián Covarrubias.

O desenvolvimento da literatura espanhola do período do séculos de Ouro (períodos do Renascimento e Barroco) com autores tão importantes como San Juan de la Cruz, Fray Luis de León, Miguel de Cervantes, Lope de Vega, Luis de Góngora, Francisco de Quevedo e Calderón de la Barca, entre outros, contribui para a fixação das letras no chamado período clássico.

O espanhol moderno

A criação da RAE, Real Academia Espanhola da língua, em 1713, por Juan Manuel Fernández Pacheco, e posteriormente a publicação, por esta instituição, do Diccionario de Autoridades (1726-39), constitui o germe da gramática moderna da língua espanhola, sendo esta instituição, desde então, a mais importante na fixação das normas que devem reger a língua espanhola.

Atualmente a RAE é integrada por acadêmicos cuja nomeação tem um caráter honorífico, tratando-se das mais relevantes personalidades no mundo das letras hispânicas, por suas conquistas como literatos, pesquisadores, docentes, lexicógrafos e suas respectivas contribuições para a difusão cultural da língua espanhola.

Outra missão importante da RAE consiste em regular a incorporação de novos termos, como são os empréstimos de outras línguas, adaptando sua grafia e seu uso às regras do espanhol.

A RAE dispõe de uma página web, www.dle.rae.es, na qual podem realizar-se diversas consultas lexicais e gramaticais: o dicionário, o dicionario de dúvidas, o corpus CREA e outras.

Tradução de uma parte do texto de autoria de Paula Salgado Reig, publicado no Portal Interuniversitario del Español.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Crônica de Viagem II

Após um período de muito trabalho, nada como umas férias! Acabei de retornar de uma viagem de duas semanas à Espanha. A viagem foi ótima e sinto que aos 41 anos estou ficando mocinha, pois viajei sozinha e não fiz nenhuma trapalhada, não perdi meu passaporte nem desci na cidade errada, ou seja, agora sou uma perita no assunto. Tanto, que desta vez, já fui preparada com as moedinhas de 1 euro para pagar o carrinho das malas: matei a pau! Até ensinei a alguns turistas desorientados como usar a maquininha das fichas. “Prestem atenção, é muito simples...”.

Bom, como sempre, fui “cargada como una mula”,  levei 10 pares de havaianas, 3 garrafas de cachaça, limão (lá, nosso limão  é conhecido como “lima” e seu preço é bem salgado), ingredientes para feijoada, incluindo a couve (que lá se chama berza e é mais difícil de encontrar que piolho em careca), e as “extravagâncias” que minha irmã sempre me pede: pipoca doce de canjica e halls de cereja, ela adora!

Ah, sim, como agora estamos morando em Belém do Pará levei um quilo de polpa de cupuaçu, 4 vidros de doce de cupuaçu, e também artesanato, cerâmica marajoara, três pratos para minhas tias e um vaso lindíssimo para minha irmã. Para meu sobrinho de 9 anos, comprei umas lembrancinhas que considerei exóticas, porque ele já tem o quarto cheio de brinquedos, então comprei um pião de madeira e um sapo de madeira que reproduz o coaxar do bichinho. O pião me deu muito trabalho, passei mais de uma semana treinando em casa, dando cada trombada no chão do apartamento que os vizinhos de baixo devem ter pensado que estávamos fazendo reformas. Encantei-me com o sapo manauara de madeira que possui uma espécie de crista em suas costas, onde ao passar uma varinha também de madeira, produz o som característico desses anfíbios.

Para criar um clima místico, falei como um xamã ao meu sobrinho: “Você está segurando um pedaço da selva amazônica em suas mãos, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Minha irmã sussurrou em meu ouvido: “Não quero acabar com sua empolgação, mas nós tínhamos um sapo igual a esse, compramo-lo na Tailândia, não sei onde foi parar, mas acho que ele já não se lembra”. Que beleza! Na era “Made in China” é difícil encontrar algo original, mas o que vale é a intenção. Isso sem falar no constrangimento que passei quando fui comprar o sapo no mercado público Ver o Peso em Belém. Assim que vi o sapo, com toda minha ingenuidade, encostei na varinha de madeira e perguntei ao vendedor: “Moço, para que serve este pauzinho” e quando encostei no pauzinho, este caiu e rolou para debaixo de todas aquelas parafernálias exibidas na barraca. O moço fez uma carranca e eu fiquei morrendo de vergonha.

Sapo Manauara

Cerâmica Marajoara no mercado público Ver o Peso, em Belém do Pará

A recepção no aeroporto foi muito emocionante, porque um dos motivos de minha viagem era conhecer minha sobrinha de quatro meses, então foi com muita alegria que pude constatar pessoalmente o crescimento da família com essa coisinha superfofa para carregar no colo e encher de mimos “Ô coisinha tão bonitinha da titia”. Meu sobrinho de nove anos cresceu muito, mas continua com a mesma carinha meiga!

Agora minha irmã e família estão morando em um “pueblo” a 40 km de Madri, próximo à Sierra de Guadarrama, uma pequena cidade muito agradável, calma, limpa e acolhedora. Acolhedora, exceto por uma senhora idosa que, no almoço comunitário da cidade, quase teve chilique quando lhe perguntamos se poderíamos compartilhar a mesa. Nunca vi tanta “simpatia” reunida em um único corpo, deixou no chinelo a protagonista do filme O Exorcista, coisa que não combina nem um pouco com a procissão religiosa que motivou o almoço comunitário, mas tudo bem, mau humor é uma coisa que existe em todos os lugares do planeta.

Fizemos vários passeios por lugares típicos de Madri: Puerta del Sol, Plaza Mayor, Fuente de Cibeles, Gran Vía, Ayuntamiento, passeio pelo Parque Madrid Río — uma área de recreação para caminhar, pedalar e passear, construído entre os anos de 2006 a 2011 nas duas margens do rio Manzanares, sobre o traçado subterrâneo da rodovia M30, é um parque voltado para o lazer do cidadão.


Dürüm
Comemos alguns quitutes típicos de Madri como o “bocadillo de calamares” da Plaza Mayor e as “tortilla de patatas” mais famosa de Madri, das quais já falei na Crônica de Viagem I. Também comi uma coisa que eu adoro que é o “dürüm” típico espanhol (brincadeira, é um lanche típico da Turquia), mas eu sempre brinco dizendo que tenho vontade de comer um “dürüm ou o döner kebak” típico espanhol. No Brasil, é conhecido como churrasco turco, é um churrasco de carne de cordeiro, boi ou frango assada num espeto giratório e servida em pão pita, achatado e enrolado, acompanhado de salada e um molho de alho agridoce. Sou fã!

Bom, agora vamos a algumas curiosidades culturais e linguísticas. Quando passávamos pela Plaza Mayor vi numa loja um cartaz que dizia: “Tenemos gamusinos”. Perguntei ao meu cunhado o que eram gamusinos e ele me explicou que é um animalzinho imaginário que os caçadores experientes inventaram para zombar dos principiantes, uma lenda urbana tal como quando dizem a um motorista inexperiente que seu carro tem um problema  “en la junta de la trócola”, uma peça imaginária do veículo. Conclusão, assim como existem mal-humorados em todas as partes do planeta também existem os gozadores. Eu fiquei um tanto contrariada com aquilo, pois achei que colocar um cartaz dizendo “Tenemos gamusinos” era propaganda enganosa e uma afronta aos direitos do consumidor, então minha irmã resolveu perguntar o que eram os gamusinos e lhe disseram que eram uns doces típicos.

Outra anedota, desta vez constrangedora para mim, foi quando meu cunhado me perguntou se eu conhecia o Pablo Iglesias e eu, com toda minha ingenuidade, respondi: Sim, é o filho de Julio Iglesias! E minha irmã e meu cunhado caíram na gargalhada, pois Pablo Iglesias não é filho de Julio Iglesias, mas professor universitário que se elegeu eurodeputado pelo partido Podemos. Ele é fundador e líder do partido que surgiu após o movimento conhecido como 15M ou movimento dos indignados que surgiu em 2011 na Plaza del Sol em Madri. Bom, sem comentários... é claro que eu tentei disfarçar, dizendo “vocês não tem senso de humor, é óbvio que eu estava brincando”. Na verdade eu conhecia a figura, mas não a liguei ao nome... E como não poderia deixar de ser os gozadores da Internet já criaram um meme do Julio Iglesias, aproveitando-se da coincidência dos sobrenomes.




Outra curiosidade linguística que me chamou à atenção é que, em espanhol, a palavra “amador” não é usada com o mesmo sentido que a usamos em português, ou seja, para designar uma pessoa que se dedica a um ofício por gosto ou curiosidade e não por profissão. Amador é aquele que ama algo ou alguém, o amante. Aficionado ou Amateur é aquele que exerce uma atividade por gosto ou curiosidade, o termo aficionado também é usado em sentido pejorativo. O termo Amateur é um artigo novo, um avanço da 23ª edição do dicionário da RAE, é um adjetivo proveniente do francês cuja definição é “aficionado a algo com certo conhecimento da matéria de que se trata”.

Uma dificuldade para os lusofalantes tradutores de espanhol ou para os hispanofalantes tradutores de português é a formação de palavras por sufixação e prefixação, esse assunto merece uma publicação à parte, pois é habitual a interferência entre ambas as línguas. Por exemplo, enquanto em português dizemos “mimado”, “cardiologista”, “enfermagem”, “secura”, “aprofundar”; em espanhol, diz-se “mimoso”, “cardiólogo”, “enfermería”, “sequedad”, “profundizar”, por citar alguns exemplos.

Aqueduto de Segovia
Mas deixemos de lado as questões linguísticas e voltemos aos passeios. Fizemos alguns passeios por cidades que são patrimônios históricos: Toledo e Segovia, sobre Toledo já falei aqui no blog e sobre Segovia falarei em outra ocasião. Ambas são encantadoras e são programas que valem a pena, tanto, que é a segunda vez que visito Toledo e espero que não seja a última.



Castillo nuevo de Manzanares

Visitamos o “Castillo de Manzanares El Real” também conhecido como “Castillo de los Mendonza”, um pequeno castelo muito bem conservado ao pé da Sierra de Guadarrama do qual pretendo falar em outro momento.









Mais uma vez minha querida titia contribuiu para o crescimento de minha biblioteca e presenteou-me com três belas obras: o Diccionario de Sinónimos y Antónimos de María Moliner; 70 Refranes para la Enseñanza del Español, de Inmaculada Penadés Martínez, Reme Penadés Martínez, Xiaojing He e Eugênia Olímpio de Oliveira Silva; e Los Refranes del Quijote y sus Traducciones em la Lengua Portuguesa de Carmen Mª Comino Fernández de Cañete. Cada qual merece uma resenha à parte.

Como podem ver, queridos leitores, a viagem contribuiu para aumentar meu repertório de assuntos para o blog, agora basta organizar as ideias e aprofundá-las. Viajar é sempre uma oportunidade para refrescar a mente, fazer descobertas e analisar as coisas a partir de outra perspectiva.

Desta vez, não fui durante o verão espanhol, mas no início do outono, o que me permitiu viver uma experiência diferente. Meus familiares estavam todos trabalhando, com exceção de minha irmã que ainda está usufruindo de sua licença maternidade. Então pude presenciar o estresse dos madrilenhos para conseguir encontrar uma vaga de estacionamento ou para encarar os engarrafamentos nos horários de pico.


Desta vez, não estávamos todos reunidos na praia, mas espalhados por Madri e pelas cidades vizinhas, então a comida serviu para promover deliciosas reuniões familiares. Um dia nos reunimos para comer barbacoa, o churrasco espanhol com suas peculiaridades como os puerros y pimientos (alhos-porós e pimentões) assados, muito gostosos, diga-se de passagem. Outro dia fui eu que preparei uma modesta feijoada, regada a caipirinha. E para fechar com chave de ouro, minha titia mestre-cuca, ofereceu uma merienda-cena digna de um masterchef, aliás, a titia está fazendo um curso de culinária masterchef, assim, é possível imaginar nossa empolgação para tantos quitutes deliciosos, tanto, que até acabamos nos esquecendo de tirar fotos da família reunida. Um dos destaques foram os saquitos de morcilla con pasta filo, mmmmm... delicados, crocantes e deliciosos!


Saquitos de morcilla con pasta filo
Se em 2014 tive de sorrir amarelo quando me perguntaram da goleada que o Brasil levou da Alemanha na Copa do Mundo, desta vez, o assunto indesejável foi a crise econômica no Brasil. Quem diria que após 6 anos, quando fizemos nossa última viagem em família para a Espanha, nossa situação econômica mudaria tanto, e para pior? Lembro-me bem de que naquela ocasião o Brasil estava com a bola toda lá no exterior, as perspectivas de crescimento e estabilidade eram das melhores. Infelizmente o período de bonança não foi aproveitado para o desenvolvimento do país, e as manchetes internacionais destacam nosso período de crise decorrente das infindáveis escândalos de corrupção e desvio de recursos públicos. Lamentável!

Se uma de minhas titias contribuiu para meu crescimento profissional, aumentando minha biblioteca, as outras duas titias contribuíram para meu crescimento cultural, levando-me a Toledo e a Segóvia, minha irmãzinha e família, estiveram sempre a meu lado, também, a pesar das dificuldades de carregar todos os apetrechos necessários para sair com um bebê.  Até minha vozinha, com suas dificuldades de locomoção, acompanhou-nos sempre que possível. Isso não tem preço e fico muito agradecida. O principal não foram os lugares visitados, mas a companhia. Espero poder retornar em breve, desta vez com meu marido e nossos filhos!

E para terminar, também voltei carregada como uma mula, com as malas cheias de presentes e de guloseimas, felizmente nada me foi confiscado! Fui muito bem recebida por meus queridos filhos, marido e por nosso cachorrinho salsicha, fiquei muito feliz por estar novamente com eles. Cheguei a Belém em um momento muito significativo para a cidade, na ocasião do Círio de Nazaré, uma impressionante procissão religiosa que reuniu cerca de dois milhões de pessoas.


Círio de Nazaré