Karina Jannini nasceu em São Paulo, é graduada em Francês e
Português pela FFLCH-USP, fez especialização em tradução Alemão-Português,
Francês-Português e pós-graduação em Língua e Literatura Italiana pela mesma
faculdade. Traduz ficção, ensaios e fascículos de revistas para várias
editoras.
Olá, Karina, em primeiro lugar, muito obrigada por aceitar
dar esta entrevista, é um imenso prazer tê-la aqui no blog! Para começar, como
foi que a tradução entrou em sua vida: por “acidente de percurso” ou você tinha
claro que queria ser tradutora?
Karina
Jannini – Eu é que agradeço a oportunidade, Diana! A tradução entrou em minha
vida quando eu estava cursando a pós-lato
sensu em tradução, mas desde o colégio já pensava em ser tradutora. Sempre
me interessei por idiomas e me encantava com a ideia de um dia poder trabalhar
com isso.
Quais são os idiomas com que trabalha e como surgiu a
oportunidade de entrar para o mundo da tradução editorial?
Karina
Jannini – Trabalho com alemão, francês e italiano. A oportunidade de entrar
para o mundo da tradução editorial surgiu graças a meu professor de alemão na
faculdade, João Azenha Jr., que me indicou para a Editora Martins Fontes.
Depois disso, nunca mais parei de trabalhar com a tradução de livros.
Acho que todo tradutor literário é um amante dos
livros e da literatura e encara o ofício mais como prazer. Por outro lado, não
é fácil estabelecer-se nesse mercado, e a maioria dos profissionais acaba
conjugando a tradução literária com outras atividades, como a tradução técnica,
por exemplo. Você acha que é possível viver exclusivamente da tradução
editorial no Brasil?
Karina
Jannini – Houve um tempo em que consegui viver apenas de tradução literária.
Havia mais demanda por parte das editoras, e o fato de eu trabalhar com mais de
uma língua também me ajudou. Hoje está muito mais difícil e, paralelamente à
tradução, dou aulas particulares de idiomas. É uma pena que a tradução
literária não possa ser considerada uma profissão de dedicação exclusiva, pois
exige muita pesquisa por parte do tradutor.
Conheci seu trabalho através do livro Quando finalmente voltará a ser como nunca
foi, de Joachim Meyerhoff. Fale-nos um pouco dessa experiência e do
processo tradutório, quais foram os primeiros passos antes de iniciar a
tradução?
Karina
Jannini – Gostei muito de traduzir esse livro. Não conhecia o autor e me
identifiquei logo de início com seu estilo. Como ocorre na maioria das vezes,
não tive tempo de ler o livro inteiro antes de começar a traduzi-lo, mas tive a
oportunidade de apresentar alguns trechos do meu trabalho em uma oficina de
tradução alemão-português e discutir algumas dúvidas com outros colegas
tradutores. Esse feedback foi muito
importante na hora de fazer algumas escolhas, sobretudo quanto ao tom que daria
ao texto em português.
Sentiu-se pressionada pelo fato de ser uma obra
premiada ou tentou não pensar nisso? Você teve algum contato com o autor?
Karina
Jannini – Não, não me senti pressionada e não tive contato com o autor.
Quando li sua tradução, chamou minha atenção o fato de
você privilegiar a norma culta, ainda nos trechos narrados pelo olhar de uma
criança, além disso, você empregou as famigeradas notas de rodapé. Identifico-me
com suas escolhas, pois acredito que acrescentaram qualidade ao resultado
final. Você poderia justificar sua postura?
Karina
Jannini – Embora o texto seja narrado da perspectiva de uma criança, a
linguagem no original é de um adulto. Procuro sempre usar a norma culta quando
não há nada que sugira o contrário no original. A língua escrita é diferente da
falada, tem regras próprias para ser entendida porque não conta com a expressão
facial, a gestualidade e a entonação de que dispomos na fala. Mesmo quando o
texto de partida convida o tradutor a trazer a oralidade para a escrita, há um
limite a ser respeitado para que o texto possa ser compreendido pelo leitor.
Quanto às notas de rodapé, as editoras costumam exigir parcimônia dos
tradutores, para que o texto não fique muito “poluído”. No entanto, em casos
como o texto de Meyerhoff, em que há muitas referências culturais, as notas
ajudam a elucidar o contexto e aproximar o leitor do ambiente em que se passa a
história.
Tenho a impressão de que você é bastante
perfeccionista. Estou certa? Você acha que isso atrapalha ou ajuda? Você leu
sua tradução novamente depois de publicada? Ficou satisfeita com o resultado?
Karina
Jannini – Sim, sou perfeccionista e acho que essa é uma característica de todo
tradutor de textos escritos, principalmente literários, pois, ao contrário de
um tradutor intérprete, por exemplo, temos a oportunidade de conviver mais
tempo com o texto de partida. A tradução de um livro requer várias leituras, e
nosso olhar muda a cada uma delas. Muitas vezes, a solução que achamos eficaz
na primeira versão sofre alterações ao longo do trabalho e já não parece tão
boa no final. É um processo de amadurecimento. Evito ler a tradução depois de
publicada porque sempre me decepciono e encontro alguma solução melhor que não
me ocorreu enquanto estava traduzindo. É uma sensação desagradável, geralmente
acompanhada por um frio na barriga, que talvez seja um efeito colateral do
perfeccionismo. Por outro lado, esse mal-estar me faz pensar que a tradução é uma
atividade sempre aberta a novas leituras e soluções, e é isso que nos faz
aprender e avançar.
Como se organiza quando está traduzindo uma obra, você
tem uma meta de palavras ou horas diárias? E o que faz para relaxar durante um
trabalho difícil?
Karina
Jannini – Como cada texto apresenta uma dificuldade diferente, no início do
trabalho costumo traduzir algumas páginas para ter uma ideia de quanto vou
conseguir produzir por dia e, a partir disso, faço minha programação mensal. Por
trabalhar em casa, procuro ser disciplinada. Gosto de começar o expediente
cedo, mas geralmente não tenho hora certa para terminar. Para conseguir passar
muitas horas na frente do computador, pratico natação pelo menos três vezes por
semana. É um esporte que me ajuda não apenas com as dores na coluna, mas também
a espairecer quando tenho um trabalho muito difícil pela frente.
Diana - Você poderia comentar alguma dificuldade de
tradução que tenha tirado seu sono neste livro em particular?
Karina
Jannini – De modo geral, e não apenas neste livro, a principal dificuldade que
encontro quando traduzo do alemão refere-se à sintaxe, que é muito diferente do
português. Frases longas, com muitos incisos, são comuns em alemão, mas nem
sempre podem ser transportadas para o português com a mesma estrutura. É um
verdadeiro quebra-cabeça. O tradutor se vê diante do dilema de manter-se fiel
ao original, mas produzir um texto artificial, ou desmontar essas
superestruturas e tornar o texto de chegada mais espontâneo. Nessas horas, o
bom senso é a regra.
Diana – Ao lidar com uma trama tão envolvente e
íntima, que aflora sensibilidade, você se emocionou? Foi difícil desligar-se
das personagens ao terminar a tradução?
Karina
Jannini – Sim, muitas vezes me emociono com o que leio e espero conseguir
transmitir a mesma emoção na tradução. Algumas vezes até sonho com as histórias
que estou traduzindo. Porém, como costumo trabalhar com mais de um texto
simultaneamente, não consigo reter os detalhes por muito tempo.
Diana – Do que você mais gosta no seu trabalho e quais
são suas ambições?
Karina
Jannini – O que mais gosto na tradução é a possibilidade de conhecer várias
histórias, trabalhar com diversos tipos de texto, aprender e estudar sempre, conhecer
mundos completamente diferentes e tentar trazê-los para a minha realidade. Não
tenho ambições, apenas o desejo de poder continuar fazendo esse trabalho e, se
possível, traduzir livros que me encantam, mas continuam desconhecidos do
público brasileiro.
Diana – Para finalizar, qual seria sua dica para
aqueles que pretendem se dedicar à tradução editorial?
Karina
Jannini – Em primeiro lugar, aconselho que se dediquem a mais de uma língua
estrangeira, pois é muito difícil viver de tradução literária dominando apenas
um idioma, mesmo quando se trata dos mais procurados, como o inglês e o
espanhol. Versatilidade é fundamental. Em segundo, ter curiosidade, muita
leitura e se interessar por diversos temas. A tradução é uma caixinha de
surpresas. Quando menos esperamos, deparamos com um texto que traz um
vocabulário ou tema que nunca imaginaríamos traduzir um dia.
Obrigada mais uma vez, Karina, e parabéns pelo excelente
trabalho!
Eu é que agradeço a oportunidade!
Obras traduzidas:
Alemão-português:
Asmus, Sylvia & Eckl, Marlen (orgs.). “... olhando mais para frente do que para trás...” – O
exílio de língua alemã no Brasil 1933-1945 (publicação bilíngue). Berlim,
Hentrich & Hentrich, 2013.
Barreau,
Nicolas. O sorriso das mulheres.
Campinas, Verus, 2013.
Biallowons,
Simon. Francisco – o papa do povo.
São Paulo, Pensamento, 2013.
Dahlke, Rüdiger. Minhas melhores dicas de saúde – manual prático de qualidade de vida.
São Paulo, Cultrix, 2012.
Dahlke, Rüdiger & Kaesemann, Vera. A doença como linguagem da psique infantil. São Paulo, Pensamento-Cultrix,
2014.
Dobelli, Rolf. A arte de pensar claramente – como evitar as
armadilhas do pensamento e tomar decisões de forma mais eficaz. Rio de
Janeiro, Objetiva, 2013.
Enders, Giulia. O discreto charme do intestino. São
Paulo, WMF Martins Fontes, 2015.
Frutiger, Adrian. Sinais e símbolos – Desenho, projeto e
significado. São Paulo, Martins Fontes, 1999.
Fürst, Alfons (org.). Paz na Terra? As religiões universais entre
a renúncia e a disposição à violência. Aparecida (SP), Ideias & Letras,
2009.
Goga, Susanne. Mistério em Chalk Hill. São Paulo,
Pensamento-Cultrix/Jangada, 2017.
Habermas, Jürgen. O futuro
da natureza humana. São Paulo, Martins Fontes, 2004.
Haug, Wolfgang Fritz.
Considerações extemporâneas sobre o Manifesto Comunista. In: Estudos Avançados. São Paulo, Instituto
de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, 1998. v. 12, n. 34, pp.
73-76.
Hochuli, Jost. O detalhe na tipografia. São Paulo, WMF
Martins Fontes, 2013.
Jellouschek,
Hans. Espelho, espelho nosso – encontros
e desencontros refletidos em contos de fadas e mitos. Campinas, Verus,
2013.
Landeweer, Gert
Groot. Introdução à terapia craniossacral
– Manual prático para desfazer os bloqueios do seu corpo. São Paulo,
Cultrix, 2013.
Meyerhoff,
Joachim. Quando finalmente voltará a ser
como nunca foi. Rio de Janeiro, Valentina, 2016.
Neuhaus, Nele. Branca de Neve tem que morrer. São Paulo, Jangada, 2012.
______. Lobo
mau. São Paulo, Jangada, 2014.
Nietzsche, Friedrich. Sabedoria
para depois de amanhã. São Paulo, Martins Fontes, 2005.
Nöstlinger,
Christine. Konrad – O menino da lata.
São Paulo, Biruta, 2013.
Pauli, Lorenz. Pode
levar! São Paulo, Biruta, 2013.
Raabe, Melanie. Armadilha.
São Paulo, Pensamento-Cultrix/Jangada, 2016.
Reemtsma, Jan Philipp. Memórias de um sequestrado. São Paulo,
Martins Fontes, 1999.
Scheunemann,
Frauke. Hércules: o cupido de quatro
patas. São Paulo, Jangada, 2013. [Tradução realizada em parceria com
Cristiano Zwiesele do Amaral.]
Schopenhauer, Arthur. A arte de insultar. São Paulo, Martins
Fontes, 2003.
______. Fragmentos sobre a história da filosofia. São Paulo, Martins
Fontes, 2007.
______. A arte de envelhecer ou Senilia. São Paulo, Martins Fontes, 2012.
______. Sobre a morte. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2013.
Spyri, Johanna. Heidi – a menina dos Alpes, volume 1: tempo
de viajar e aprender. Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2016.
______. Heidi – a menina dos Alpes, volume 2: tempo de usar o que aprendeu.
Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2016.
Stamm, Peter. Agnes. São Paulo, Berlendis & Vertecchia Editores, 2002.
Steinhöfel, Andreas. Rico e Oskar – mistério e macarrão. São
Paulo, WMF Martins Fontes, 2013.
Ullrich, Volker. Adolf
Hitler. Volume 1: Os anos de ascensão – 1889-1939. São Paulo, Amarilys,
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Wahrig-Burfeind, Renate (org.). Wahrig. Dicionário
semibilíngue para brasileiros – Alemão. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2011.
Zimmer, Robert. O portal da filosofia – Uma breve leitura de
obras fundamentais da filosofia. Volume 2. São Paulo, WMF Martins Fontes,
2014 (tradução feita em parceria com Rita de Cássia Machado).
Francês-português:
Aviões
de combate a jato.
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e pilote Lamborghini Reventón – radiocontrolada e com motor de explosão, escala 1:10. São Paulo,
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Volpi, Franco. Introdução. In: Schopenhauer, Arthur. A
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