sexta-feira, 30 de maio de 2014

Novo endereço de Questões Gramaticais do professor Carlos Nougué

Já se encontra disponível a novo endereço de Questões Gramaticais, do professor Carlos Nougué.
http://www.questoesgramaticais.com.br/

CARLOS NOUGUÉ, nascido no Rio de Janeiro e atualmente com 62 anos, ocupou a cadeira de LÍNGUA PORTUGUESA e a de TRADUÇÃO LITERÁRIA durante mais de nove anos numa pós-graduação, além de ter ampla atuação como professor de FILOSOFIA, como TRADUTOR e como LEXICÓGRAFO.

Esta página divulga informações acerca do curso Para Bem Escrever na Língua Portuguesa, que terá início em breve; da Suma Gramatical; e ainda, dos Concursos de Tradução e de Copidesque que serão promovidos pelo professor.

Não deixem de prestigiar!!!

terça-feira, 27 de maio de 2014

Entrevista com a tradutora Sheila Gomes




Sheila Gomes é tradutora de inglês e português com 19 anos de experiência.  Também foi professora de EFL por 23 anos. Atualmente trabalha com localização de software, sites e jogos, e é administradora do Multitude, um site de webinars e consultoria para tradutores e intérpretes. É bacharel em Turismo com ênfase em Meio Ambiente, pós-graduada em Tradução de inglês para português e graduanda em Informática Biomédica na UFPR. Usuária e divulgadora do programa gratuito de tradução assistida OmegaT. Membro da ABRATES, ATA e IAPTI e representante regional da ABRATES no sul do Brasil.



Diana - Quais são as línguas que você traduz e há quanto tempo é tradutora?

Sheila – Sou tradutora de inglês e português há 19 anos.



Diana - Como surgiu a oportunidade de trabalhar numa empresa de TI e de que forma isso contribui em sua formação profissional?

Sheila – Eu ensinava inglês e uma amiga avisou sobre a abertura da vaga na empresa. Embora eu estivesse com uma carga de aulas muito pesada, pensei que trabalhar em outra atividade que complementasse a renda seria interessante e recompensador em termos de desenvolvimento profissional. E realmente foi uma oportunidade de grande aprendizado. Mesmo não compensando financeiramente na época, valeu pelos contatos e acabou sendo o pontapé inicial para buscar minha independência como tradutora profissional. Além de ter sido o lugar onde aprendi a usar a primeira CAT tool que conheci: o OmegaT, do qual ainda hoje sou usuária e divulgadora.



Diana - Quais são os conhecimentos e as qualidades que a tradução técnica requer?

Sheila – É preciso ter uma mente aberta a várias interpretações, pois o pensamento técnico segue uma lógica própria e quem produz conteúdo nesta área nem sempre tem um domínio de escrita no próprio idioma.



Diana – Quais são as principais dificuldades que você enfrentou para estabelecer seu próprio negócio?

Sheila – Com certeza foi tomar decisões sobre as melhores opções devido à imensa quantidade de informações disponíveis na Internet. Li vários livros, pesquisei sites de todos os tipos, buscando opções de design que oferecessem o máximo de informações aos visitantes, pois creio que os pontos primordiais em qualquer oferta de serviços são a clareza e disponibilidade de informações, além de atendimento rápido e disponível, dentro das possibilidades de uma empresa de uma pessoa só.



Diana – E que vantagens isso lhe trouxe?

Sheila – O contato com grandes profissionais, a organização e acompanhamento das apresentações, além de serem grandes fontes de conhecimento, acabaram gerando uma série de novas ideias e projetos profissionais, dentro e fora do site. É uma experiência incomparável e extremamente recompensadora, mesmo com as exigências de tempo e dedicação à manutenção do empreendimento.



Diana – Em que consiste a localização e em que se distingue da tradução propriamente dita?

Sheila – A localização difere da tradução principalmente em termos de: (1) elementos que a integram, pois não consiste apenas de palavras, mas muitas vezes de códigos de programação, variáveis e referências para adaptação do texto para a realidade do público leitor; (2) a conversão de unidades (métricas, monetárias, etc.), referências culturais, populares e factuais para a região (conhecida no meio como “locale”) e (3) restrições como limitação de caracteres devido às características próprias das plataformas de apresentação (computadores e outros dispositivos) ou de clientes específicos.



Diana – Como é o processo de localização de um jogo?

Sheila – Não há um processo único, mas de modo geral, o processo deveria iniciar já na programação do jogo, para que esta já seja executada levando em conta a internacionalização, tornando o software compatível com os diferentes formatos linguísticos dos idiomas para os quais o jogo será traduzido (uso de caracteres especiais, formatos numéricos). A localização em si pode ser feita no próprio estúdio que desenvolve o jogo. Porém muitas vezes fica a cargo de uma agência especializada. Essa agência, por sua vez, pode usar um quadro de tradutores internos ou contratar profissionais independentes. Além do tradutor, normalmente há pelo menos um gerente de projetos (PM), um revisor e um tester, e o trabalho pode ir e voltar entre eles, dependendo do processo adotado pela empresa responsável pelo projeto.



Diana – Na tradução técnica, o que pesa mais: o conhecimento especializado ou o conhecimento linguístico?

Sheila – Há que se ter um equilíbrio entre os dois tipos de conhecimento e, mais que confiança no conhecimento acumulado por estudo e experiência, uma boa dose de desconfiança em relação aos textos e como interpretá-los, pois muitas vezes o conhecimento linguístico de quem os produziu sofre interferências de jargão e a escrita pode ser considerada estruturalmente correta no meio em que circulam, mas não necessariamente expressar ideias com clareza. Outro fator que interfere são as traduções de traduções, não é raro recebermos textos que já foram traduzidos de outro idioma, e cada etapa e pessoas envolvidas a mais pode adicionar dificuldades extras.



Diana – Como surgiu a ideia de criar o grupo TIME (Tradutores e Intérpretes Multiplicando Experiências) e o Multitude (blog que oferece webinars e consultoria para tradutores e intérpretes)?

Sheila – O TIME surgiu a partir da conjunção de alguns fatores: o primeiro, a minha participação no grupo Tradutores / Intérpretes do Facebook. Como sou uma das moderadoras, acompanho diariamente as atividades do grupo e percebi que havia discussões recorrentes sobre temas comuns a todo e qualquer profissional iniciante e mesmo a vários veteranos que reavaliavam sua trajetória profissional. O segundo fator é que sou geek assumida e muito curiosa a respeito de novas tecnologias de comunicação on-line, estou sempre buscando novidades. O terceiro foi perceber que havia vários colegas que respondiam generosamente às perguntas repetidas, quantas vezes viessem. Então pensei em unir esses fatores e criar algo que ajudasse a responder às dúvidas dos membros do grupo e ao mesmo tempo propiciasse o encontro de iniciantes e veteranos, e assim nasceu o TIME e depois veio também o TIMEcast, o podcast do grupo. Sou formada em Turismo e além de estar acostumada a organizar atividades e encontros, é um grande prazer acompanhar as atividades, aprendi e aprendo muito com os envolvidos, tanto com os palestrantes quanto com os participantes e suas perguntas que nos ajudam a ver as mesmas questões sob perspectivas diferentes.

Foi isso também que gerou a ideia do Multitude: oferecer webinars e consultoria a tradutores e intérpretes de modo mais abrangente, pois o TIME, além de ser restrito aos membros do grupo do FB, aborda temas mais gerais. O Multitude vai além e oferece temas voltados à especialização e profissionalização dos tradutores e intérpretes, com a oferta extra de ter os webinars gravados e acessíveis logo após cada apresentação, então os participantes podem rever os pontos que mais lhe chamem a atenção e quem não puder participar no horário e data marcados, pode comprar a gravação e assisti-la conforme sua conveniência. Além disso, acabo de fazer uma parceria com a Associação Brasileira de Tradutores (ABRATES) para oferecer ainda mais webinars e cursos com valores diferenciados para os membros e disponibilizados no mesmo molde: gravados e disponíveis logo após a apresentação. Outra iniciativa nascida no Multitude foi um blog com histórias de tradutores de todas as origens, idades e jornadas, com a intenção de ilustrar como é a grande a diversidade de caminhos nesse meio e inspirar e motivar iniciantes e veteranos que estejam (re)traçando sua carreira.



Diana – Como faz para conciliar tantas atividades?

Sheila – O meu lado geek ajuda bastante, pois uso vários recursos de software a hardware para me organizar, e tento estar on-line o máximo possível, algo que faço naturalmente, pois tenho uma curiosidade compulsiva por informação. E tenho as minhas prioridades bem claras: crescer sim, mas sempre junto com os meus pares, pois o que afeta a um, afeta a todos e cada posicionamento individual colabora para a manutenção e/ou elevação do nível da classe em geral, seja em termos de estabelecimento de padrões de mercado ou do status profissional perante a sociedade. O fato de trabalhar em casa e de ter o apoio da família também ajuda, e faço um esforço consciente de manter uma vida pessoal saudável, pois  este é um fator importante para manter o ritmo de trabalho e de vida.



Diana – Que conselho daria para alguém que pretende trabalhar como autônomo na área da tradução?

Sheila – Não há apenas um meio de construir uma carreira como tradutor autônomo, mas o fio comum que vejo na minha jornada e na de vários colegas é a busca de informações: ler blogs e livros de tradutores experientes, participar de grupos e fóruns on-line, participar dos encontros virtuais e presenciais, tudo isso ajuda o profissional a perceber a realidade do mercado de modo claro e quais são as melhores opções dentro do posicionamento que procura. Eu passei cerca de um ano apenas lendo e absorvendo informações de fontes variadas até decidir tornar-me tradutora em tempo integral e não me arrependo um segundo. Mesmo os percalços que invariavelmente acabamos encontrando têm um impacto menor quando estamos bem informados e os relacionamentos travados também nos ajudam tanto na vida profissional como pessoal.




Grupo de tradutores e intérpretes no Facebook: https://www.facebook.com/groups/tradutoreseinterpretes/



Página sobre o OmegaT: https://www.facebook.com/OmegaTBrasil

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Hipocorísticos ("apelidos") comuns em espanhol



Antes de apresentar alguns apelidos comuns em espanhol, é importante fazermos algumas distinções. O que veremos aqui, na verdade, são alguns Hipocorísticos (do grego hypokoristikós, significa chamar carinhosamente, com carícias), que são as modificações nominais com intenção de carinho, para uso no trato familiar ou amoroso (papai, mano, benzinho, Marcão, Fafá, Tião, etc.); diferentes dos apelidos que são qualificações individualizadoras que apontam determinada característica de alguém (Pedro, o careca; Cervantes, o manco de Lepanto; Dona Maria, a louca, etc.).



Em espanhol, os nomes familiares ou carinhosos também são chamados de hipocorístisticos, entretanto, há algumas diferenças: o que nós chamamos de apelido eles chamam de alias, mote, apodo e sobrenombre. Ou seja, o que para eles é sobrenombre para nós é apelido; e o que para nós é sobrenome para eles é apellido. Achou confuso?



Vejamos a explicação:



Miguel de Cervantes, el manco de Lepanto.

Miguel: nombre (nome)

de Cervantes: apellido (sobrenome)

el manco de Lepanto: apodo, alias, mote, sobrenombre (apelido)

Miguelito, Miguelín: hipocorísticos do nome Miguel



O processo de formação dos hipocorísticos se dá normalmente:

  • Por adição dos sufixos: -(c)ito/-(c)ita, -(c)ín/(c)ina -(c)illo/-(c)illa, ou outros menos frequentes como -cho/-chu/-chi (do basco): Juana → Juanita, Antonio → Antoñito, Luis → Luisillo, Juan → Juancho, Juan→Juanchi, Carlos → Carlitos.
  • Por eliminação de uma ou mais sílabas: Susana → Susi, Antonio → Toni, Nicolás → Nico.
  • Por união de dois nomes: Juan Manuel → Juanma, José Manuel → Josema, Juan Carlos → Juanca, Juan Ramón → Juanra, etc.
  • Por alterações fonéticas: Francisco → Paco/Pacho/Pancho/Curro, José → Pepe,  Ascensión → Choni, Rosario → Charo, etc.
  • Por imitação da linguagem infantil (principalmente mediante a palatalização de consoantes, que consiste na modificação resultante da diferente articulação bucal, quando, ao falar, a língua encosta no palato, o céu da boca): Gregorio → Goyo, Rosario → Chayo, Antonio → Toño.



Agora sim, vejamos alguns hipocorísticos comuns na Espanha:



Nomes femininos:

Alicia = Licha

Asunción = Asun

Beatriz = Bea

Carmen = Camucha, Carmencita

Carolina = Carol

Concepción = Concha, Conchi (cuidado, em alguns países da América Latina “concha” é o nome coloquial do órgão sexual feminino)

Dolores = Lola

Guadalupe = Lupe

Isabel = Chabela

Josefa = Pepa, Pepita

María Encarnación = Encarna

María Isabel = Maribel, Mabel

María Luisa = Marisa

Mercedes = Merche, Mercedita

Milagros = Mila

Rosario = Charo

Rosa = Rosi, Rosita

Sandra = Sandi

Soledad = Sole

Susana = Susi

Valentina = Tina



Nomes Masculinos:

Alejandro = Alex

Antonio = Toño

Enrique = Quique

Francisco = Paco, Quico, Pancho

Frederico = Fede

Gabriel = Gabi, Gabo

Gregorio = Goyo

Guillermo = Guille

Ignacio = Iñaqui, Nacho

Jaime = Jaimito (protagonista típico de piadas ingênuas, infantis, ou com duplo sentido)

Javier = Javi

Jorge = Coco

José = Pepe y Jose (sin tilde)

José María = Chema

José Luis = Joselu

Juan = Juancho

Manuel = Manolo

Miguel = Míguel (acentuado no i), Miguelito, Miguelín

Nicolás = Nico

Ramón = Moncho

Roberto = Róber
Sebastián = Sebas

 



quarta-feira, 14 de maio de 2014

A tradução de gíria



–¡Ni Dadinho ni leches! ¡Ahora me llamo Zé Pequeño, gilipollas!

Ao contrário do que possa parecer, quanto mais coloquial é o texto, mais difícil resulta traduzi-lo. Isso porque o texto coloquial reproduz a oralidade, e esta está intimamente ligada ao entorno cultural e ao momento histórico.

A linguagem coloquial caracteriza-se principalmente pela efemeridade, espontaneidade e pela permissividade, distanciando-se da norma padrão e reproduzindo marcas da oralidade como redundâncias, elipses, frases inacabadas, onomatopeias, contrações, modismos, gírias, vulgaridades, clichês, chavões, etc.

A língua é um fato social: a fala está ligada às condições da comunicação, que por sua vez estão sempre ligadas às estruturas sociais. A gíria é um dialeto usado por grupos sociais restritos e, frequentemente, menos favorecidos, que utilizam o vocabulário como marca identificadora. Como via de regra, esses grupos são marginais na sociedade e assumem postura de afronta aos valores da maioria, consequentemente, à língua padrão. Dentro do seio do grupo, a gíria é obrigatória e valorizada; fora dele, torna-se estigmatizada.

Tomemos como exemplo a linguagem da obra do escritor Paulo Lins, Cidade de Deus, que retrata o crescimento do crime organizado na Cidade de Deus entre o final da década de 1960 e o início da década de 1980. A obra que virou filme reproduz a linguagem cotidiana da favela onde “falha a fala e fala a bala” e que se mantém em torno da gíria e do calão. 

As falas dos personagens, breves e cifradas, abordam basicamente o comércio de drogas e o domínio das bocas de fumo. O registro linguístico é repleto de gíria e termos obscenos e retrata a diferença de classe e a violência presente nas favelas.

Uma das principais dificuldades do tradutor refere-se à terminologia: como encontrar fontes confiáveis para a pesquisa de vocabulário, já que muitos dos termos provavelmente não estarão dicionarizados, ou ao menos, não com o sentido com que são usados nesse contexto? Além de encontrar correspondentes na língua-alvo, o tradutor deve manter o registro informal do texto, de forma que pareça natural.

Representam verdadeiros desafios para o tradutor traduzir termos como: “bandidage”, “ferro” (arma de fogo) “punheteira” (arma 12 mm”); “caixa baixa” (crianças da favela); “boca” (lugar onde se vende a droga).
O escritor e tradutor argentino Mario Merlino, traduziu o livro de Paulo Lins para o espanhol. Numa entrevista, Mario disse que demorou quase um ano para terminar a tradução devido à dificuldade de traduzir a gíria para a qual não há dicionários.

Além das dificuldades linguísticas, muitas vezes é preciso reproduzir para o público-alvo, uma realidade que não existe ou que se desenvolve de uma forma diferente na cultura-alvo. A forma como se dá o comércio de drogas nas favelas do Rio, por exemplo, é diferente da forma como ela ocorre em outros centros urbanos, pois está condicionada por fatores políticos, sociais e econômicos do contexto em que se produz.

Portanto, para traduzir linguagem coloquial e gíria, não basta ter um conhecimento profundo da língua e da norma, já que esse tipo de registro representa uma transgressão à norma. Deve-se, principalmente, ter um ótimo conhecimento das duas culturas, bem como dos aspectos socioeconômicos do entorno. Ou seja, o tradutor precisará fazer uma exaustiva pesquisa terminológica e comportamental, além de ter sensibilidade para decidir quais são as melhores estratégias de tradução, já que a tradução literal raramente se aplica a esse tipo de texto.

Vejamos a tradução para o espanhol de um trecho do filme que explica como se dá a venda de drogas na favela:

“Vender droga é um negócio como qualquer outro. O fornecedor entrega o peso e no cafofo é feita a endolação. O trabalho de endolação é a linha de montagem do tráfico. Tão chato quanto apertar parafuso. A maconha é embalada num pacotinho chamado dóla[r]. A cocaína é embalada em papelotes e depois em trouxinhas de 10 ou pacotinhos de 100. O tráfico tem até plano de carreira. Os garotos menores começam a trabalhar como aviãzinho. Recebem uma boa grana pra levar e trazer refrigerante, mandar recado, esse tipo de coisa. Depois eles passam para olheiro. Quando a polícia aparece, a pipa desce do céu e todo o mundo sai saindo. De olheiro, o cara passa para vapor vendendo a droga na favela. Pintou sujeira, o vapor tem que evaporar rapidinho. Soldado é um cargo mais responsa, ele fica na contenção. Se o cara for esperto e bom de conta, pode virar gerente da boca. O gerente é o braço direito do patrão.”

«Vender droga es un negocio como otro cualquiera. El proveedor entrega la mercancía, que se embala en el punto de venta. Ese trabajo de embalaje es la línea de montaje de la droga. Es tan aburrido como apretar tornillos. La hierba se embala en paquetitos llamados “dolas”. La cocaína se embala en papelinas y luego en bolsitas de 10 o en paquetitos de 100. También se puede traficar estudiando una carrera. Los chavalines empiezan a trabajar de recaderos. Les pagan muy bien por traer refrescos, hacer los recados y ese tipo de cosas. Luego pasan a ser vigilantes. Cuando la policía aparece, la cometa baja del cielo y todo el mundo huye. De vigilante pasas a ser vapor, vendiendo la droga por tu favela. Cuando hay líos, el vapor se evapora rápido. El soldado es un cargo de más responsabilidad, él está en los puntos clave. Si el soldado es listo y bueno en hacer cuentas, puede convertirse en el gerente del local. El gerente es la mano derecha del jefe.»

E agora, um diálogo do mesmo filme:

–Quem é? Quem é? Vá indo aí...
–Neguinho...
–Porra, Dadinho! Como chega assim na minha boca, meu amigo?
–Quem falou que a boca é tua, rapaz?
–Quem falou que a boca é tua, cara?
–Qual é, Dadinho?
–Dadinho, o caralho! Meu nome agora é Zé Pequeno, porra!
–O nome dele é Zé Pequeno, tá entendendo?
–E tu vai cair, filho-da-puta!
–Não mata, não, que ele já entendeu. Não é, Neguinho?
–Pode ficar com a boca aí, que eu não quero nada, não. Vou sair saindo, que eu não quero alegação, valeu?

O certo era eu aproveitar aquela chance para vingar a morte de meu irmão.

–Vou sair saindo, na moral...
–Tu vai ficar vivo, Neguinho. Mas vai ficar vivo aqui, trabalhando para nós. Tá escutando?

Pensar é fácil.


–Ó, psiu, vai aonde, moleque?
–Ele tá no contexto, Zé.
–Como é que é seu nome, moleque?
–Buscapé.
–Buscapé, o irmão do Marreco.
–Marreco?
–O falecido Marreco.
–Vai lá, moleque, se adianta. Aí, moleque! Diz para todo o mundo agora que a boca dos apês pertence a Zé Pequeno, e a gente vai começar vender pó. Tá escutando?
–Cocaína!
­–Tá ligado?

Para assistir ao vídeo em português: http://www.youtube.com/watch?v=kTn-UImKJZk&feature=fvwrel

E sua tradução ao espanhol:

–¿Quién es? ¿Quién es? Ve a ver.
–Joder, Neguinho.
–Joder, Dadinho. ¿Cómo te presentas así en mi local?
–¿Quién ha dicho que el local es tuyo, tío?
–Sí, ¿quién lo ha dicho, eh?
–¿Qué pasa, Dadinho?
–¡Ni Dadinho ni leches! ¡Ahora me llamo Zé Pequeño, gilipollas!
–Se llama Zé Pequeño, ¿entiendes?
–¡Y tú la vas a palmar, hijo puta!
–No, no lo mates. Ya lo ha entendido. ¿Verdad, Neguinho?
–Puedes quedarte con el local, yo no quiero nada.
–Sí, seguro.
–Yo me largo, no quiero problemas.

La verdad es que debí aprovechar aquella oportunidad para vengar la muerte de mi hermano.

–Tú vivirás, Neguinho. Pero te quedarás aquí trabajando para nosotros, ¿me has oído?

Pensar es fácil.

–¡Eh! ¿Adónde vas?
–Está limpio, Zé.
–¿Cómo te llamas, chaval?
–Buscapé.
–Buscapé es el hermano de Marreco.
–¿Marreco?
–El difunto Marreco.
–Anda, chico, lárgate de aquí. Oye, muchacho, diles a todos que ahora el local de los Apés pertenece a Zé Pequeño y que vamos a empezar a vender farlopa, ¿entendido?
–Cocaína.
–Se ha ido cagado.

Para assistir ao vídeo em espanhol:


Neste pequeno diálogo podemos ver alguns pequenos deslizes na tradução, como o termo “Apés”, passou despercebido ao tradutor que se trata da abreviação de apartamentos, uma tradução possível seria “pisos”. A tradução do último “Tá ligado?” por “–Se ha ido cagado.” (foi embora com medo, "encagaçado") também não foi a mais adequada, pois não corresponde ao significado em português: “entendeu?”, mais adequada seria “te has enterado?”. A palavra "boca" (ponto de venda de drogas) foi traduzida por um termo mais genérico "local" (lugar), já que o termo original é próprio do âmbito do comércio de drogas que ocorre no Brasil. Percebemos também a amenização dos palavrões provavelmente por exigência da distribuidora do filme.

Outro deslize foi a tradução de "O tráfico tem até plano de carreira" que foi traduzido como "También se puede estudiar haciendo una carrera". Cuja tradução deveria ser semelhante a: "El tráfico 'tiene/incluye/propone' hasta un plan de carrera". (Deixo meu agradecimento ao tradutor Fernando Carlos Iglesias, que contribuiu com esta observação).

Tu nota, como siempre, excelente. Pero la traducción de la película deja bastante que desear. 

 
Na versão norte-americana, o título foi traduzido como City of God e os nomes das personagens da versão original em português, que também aparecem na versão dublada ao espanhol, não são os mesmos na versão em inglês, Buscapé virou Rocke, Zé Pequeño virou Little Ze (ou Little Dice enquanto ainda se chama Dadinho); Mané Galinha é Knockout Ned; Cenoura é Carrot e Cabeleira é Shaggy.