Bom dia, meus queridos leitores!
Que bom tê-los
por aqui!
Hoje acordei
com vontade de falar, de escrever. Acabei de chegar do mercado com meu carrinho
de compras quase explodindo, como sempre, e, no caminho, eu já vinha pensando
com meus botões no que iria escrever. Pensei: “Quando eu chegar em casa, só vou
guardar as coisas rapidinho e já vou logo escrever, antes que as inspiração vá
embora”.
Decidi escrever uma resenha literária sobre um livro que me impactou bastante, “La fiesta del Chivo” (A festa do Bode), do escritor peruano falecido recentemente, prêmio nobel de literatura e membro da Real Academia Española, Mario Vargas Llosa.
Antes, preciso
fazer um preâmbulo para falar de minha tia... Já falei dela aqui em outra ocasião.
Foi ela quem me indicou este livro. Nós temos o nosso “clube de leitura de nós
duas”, exclusivíssimo, sem vagas e com duas cadeiras vitalícias. Quando
descobrimos que tínhamos esse gosto em comum pela literatura, começamos a ler
obras juntas, o que trouxe muito mais sabor para as leituras. Quase sempre é
ela que faz a “curadoria”, simplesmente porque ela já leu quase todos os livros
que existem... É sério, gente! É difícil sugerir alguma coisa inédita. Ela já
leu todos os livros que vocês possam imaginar, até os livros que ainda não
foram publicados e os que ainda não foram escritos!!! Sem falar que ela lê
vários livros ao mesmo tempo. Só para vocês terem uma noção ela está lendo a
coleção de 60 volumes de Historia de España, de Ramón Menendez Pidal, essa é a
leitura intermitente dela. Então como ela tem uma bagagem tão ampla, muitas
vezes acaba fazendo uma releitura comigo para relembrar obras emblemáticas da
literatura hispano-americana e também universal. Essas indicações enriqueceram
muito minha bagagem também, ela me apresentou Fortunata y Jacinta, de Benito Pérez
Galdós, e La Regenta, de Leopoldo Alas Clarín, clássicos da literatura espanhola,
que dizem muito sobre a sociedade, a vida e os costumes da Espanha do século XIX.
Para mim, como tradutora de espanhol, é muito importante conhecer essas obras,
tanto do ponto de vista cultural como linguístico.
Feito o preâmbulo,
vamos ao livro. Obviamente não vou fazer um resumo nem vou dar spoiler.
Só vou falar dos aspectos que mais me impressionaram. Primeiramente, a escrita
de Vargas Llosa, sempre impecável, convincente e envolvente. A técnica
narrativa é também magistral, mas é preciso estar muito atento para captar
todos os detalhes, conexões e referências.
O pano de
fundo é a ditadura de Rafael Leónidas Trujillo na República Dominicana, que se estendeu
por 31 anos, de 1930 a 1961, um assunto que eu desconhecia por completo. Na
escola, aprendi mais sobre a história da Europa do que sobre a história latino-americana.
A narrativa
não é linear, ela intercala passado e presente e alterna três planos distintos,
ou perspectivas, como preferirem. Há o plano narrativo do retorno de Urania,
filha de uma figura importante do governo Trujillo que acabou caindo em desgraça.
Depois de um autoexílio de 35 anos sem se comunicar com ninguém da família, nem
mesmo com o pai que ficou incapacitado após sofrer um AVC, Urania retorna dos
Estados Unidos para enfrentar os velhos fantasmas que deixou para trás.
Outro plano
se centra na conspiração para assassinar Trujillo, por um grupo de homens que
ocupavam altos cargos no governo, mas que mudaram de lado após sofrerem na pele
os abusos e as injustiças do regime. Chama a atenção a determinação desses
homens que estão dispostos a abrir mão da própria vida em nome da restauração
da liberdade. Esse grupo forma um esquadrão praticamente suicida, pois dificilmente
conseguirão retornar ilesos para casa.
Por fim, o
terceiro plano está voltado para o último dia de Trujillo, chamado Jefe, Benefactor,
Padre de la Patria Nueva, Generalísimo, Excelencia. Nesse plano Trujillo
relembra sua trajetória, de menino pobre, terceiro de onze filhos de um pequeno
comerciante e de uma mestiça de ascendência franco-haitiana, mais tarde
conhecida como Mamá Julia.
O governo
de Trujillo foi uma das ditaduras mais cruentas da América Latina. Sob o
pretexto de ter modernizado e desenvolvido o país, de ter restaurado a ordem e
de ter conseguido a estabilidade financeira acabando com a dívida externa, Trujillo
foi se fortalecendo e foi se tornando uma lenda, alguém infalível capaz de
multiplicar os pães e o vinho, alguém que nem sequer transpirava sob o
implacável sol dominicano. Ele se valeu desses aspectos positivos de seu
governo para se tornar um ditador e justificar seu lado mais sombrio, usando o
terror para eliminar qualquer oposição através da tortura, da perseguição, da
espionagem e da delação. Junto com seus irmãos, familiares e seu séquito de
aduladores conseguiu dominar todas as instituições e acumular um vasto poder
econômico e político ao se apropriar de boa parte da indústria e do comércio do
país, e monopolizar setores-chave da economia dominicana como a indústria
açucareira.
Outro
aspecto destacado no livro foi seu famoso apetite sexual, cínico e descarado, que
não se contentava em ter suas amantes, mas que chegava ao ponto de se relacionar
com as mulheres de seus colaboradores mais próximos, literalmente o desejo sexual
dele era uma ordem. Esperava-se que as mulheres escolhidas se sentissem
honradas e privilegiadas por servi-lo. Os maridos, por sua vez, dispostos a
pagar qualquer preço para ganhar a confiança do Jefe, engoliam o orgulho e se faziam
de sonsos.
Preciso dizer também que este livro têm umas partes muito violentas e intensas que podem causar muito desconforto e mal-estar, mas vale a pena encarar. Acho que já dá para ter uma ideia do impacto desta obra... Então espero ter conseguido despertar sua curiosidade e vontade de lê-la.
Ah, já ia me esquecendo de mencionar que também existe a versão cinematográfica e homônima, que também vale a pena conferir.
Até a próxima!
Nenhum comentário:
Postar um comentário