sexta-feira, 30 de maio de 2025

Resenha do livro "La fiesta del chivo", de Mario Vargas Llosa

Bom dia, meus queridos leitores!

Que bom tê-los por aqui!

Hoje acordei com vontade de falar, de escrever. Acabei de chegar do mercado com meu carrinho de compras quase explodindo, como sempre, e, no caminho, eu já vinha pensando com meus botões no que iria escrever. Pensei: “Quando eu chegar em casa, só vou guardar as coisas rapidinho e já vou logo escrever, antes que as inspiração vá embora”.

Decidi escrever uma resenha literária sobre um livro que me impactou bastante, “La fiesta del Chivo” (A festa do Bode), do escritor peruano falecido recentemente, prêmio nobel de literatura e membro da Real Academia Española, Mario Vargas Llosa.

Antes, preciso fazer um preâmbulo para falar de minha tia... Já falei dela aqui em outra ocasião. Foi ela quem me indicou este livro. Nós temos o nosso “clube de leitura de nós duas”, exclusivíssimo, sem vagas e com duas cadeiras vitalícias. Quando descobrimos que tínhamos esse gosto em comum pela literatura, começamos a ler obras juntas, o que trouxe muito mais sabor para as leituras. Quase sempre é ela que faz a “curadoria”, simplesmente porque ela já leu quase todos os livros que existem... É sério, gente! É difícil sugerir alguma coisa inédita. Ela já leu todos os livros que vocês possam imaginar, até os livros que ainda não foram publicados e os que ainda não foram escritos!!! Sem falar que ela lê vários livros ao mesmo tempo. Só para vocês terem uma noção ela está lendo a coleção de 60 volumes de Historia de España, de Ramón Menendez Pidal, essa é a leitura intermitente dela. Então como ela tem uma bagagem tão ampla, muitas vezes acaba fazendo uma releitura comigo para relembrar obras emblemáticas da literatura hispano-americana e também universal. Essas indicações enriqueceram muito minha bagagem também, ela me apresentou Fortunata y Jacinta, de Benito Pérez Galdós, e La Regenta, de Leopoldo Alas Clarín, clássicos da literatura espanhola, que dizem muito sobre a sociedade, a vida e os costumes da Espanha do século XIX. Para mim, como tradutora de espanhol, é muito importante conhecer essas obras, tanto do ponto de vista cultural como linguístico.

Feito o preâmbulo, vamos ao livro. Obviamente não vou fazer um resumo nem vou dar spoiler. Só vou falar dos aspectos que mais me impressionaram. Primeiramente, a escrita de Vargas Llosa, sempre impecável, convincente e envolvente. A técnica narrativa é também magistral, mas é preciso estar muito atento para captar todos os detalhes, conexões e referências.

O pano de fundo é a ditadura de Rafael Leónidas Trujillo na República Dominicana, que se estendeu por 31 anos, de 1930 a 1961, um assunto que eu desconhecia por completo. Na escola, aprendi mais sobre a história da Europa do que sobre a história latino-americana.

A narrativa não é linear, ela intercala passado e presente e alterna três planos distintos, ou perspectivas, como preferirem. Há o plano narrativo do retorno de Urania, filha de uma figura importante do governo Trujillo que acabou caindo em desgraça. Depois de um autoexílio de 35 anos sem se comunicar com ninguém da família, nem mesmo com o pai que ficou incapacitado após sofrer um AVC, Urania retorna dos Estados Unidos para enfrentar os velhos fantasmas que deixou para trás.

Outro plano se centra na conspiração para assassinar Trujillo, por um grupo de homens que ocupavam altos cargos no governo, mas que mudaram de lado após sofrerem na pele os abusos e as injustiças do regime. Chama a atenção a determinação desses homens que estão dispostos a abrir mão da própria vida em nome da restauração da liberdade. Esse grupo forma um esquadrão praticamente suicida, pois dificilmente conseguirão retornar ilesos para casa.

Por fim, o terceiro plano está voltado para o último dia de Trujillo, chamado Jefe, Benefactor, Padre de la Patria Nueva, Generalísimo, Excelencia. Nesse plano Trujillo relembra sua trajetória, de menino pobre, terceiro de onze filhos de um pequeno comerciante e de uma mestiça de ascendência franco-haitiana, mais tarde conhecida como Mamá Julia.

O governo de Trujillo foi uma das ditaduras mais cruentas da América Latina. Sob o pretexto de ter modernizado e desenvolvido o país, de ter restaurado a ordem e de ter conseguido a estabilidade financeira acabando com a dívida externa, Trujillo foi se fortalecendo e foi se tornando uma lenda, alguém infalível capaz de multiplicar os pães e o vinho, alguém que nem sequer transpirava sob o implacável sol dominicano. Ele se valeu desses aspectos positivos de seu governo para se tornar um ditador e justificar seu lado mais sombrio, usando o terror para eliminar qualquer oposição através da tortura, da perseguição, da espionagem e da delação. Junto com seus irmãos, familiares e seu séquito de aduladores conseguiu dominar todas as instituições e acumular um vasto poder econômico e político ao se apropriar de boa parte da indústria e do comércio do país, e monopolizar setores-chave da economia dominicana como a indústria açucareira.

Outro aspecto destacado no livro foi seu famoso apetite sexual, cínico e descarado, que não se contentava em ter suas amantes, mas que chegava ao ponto de se relacionar com as mulheres de seus colaboradores mais próximos, literalmente o desejo sexual dele era uma ordem. Esperava-se que as mulheres escolhidas se sentissem honradas e privilegiadas por servi-lo. Os maridos, por sua vez, dispostos a pagar qualquer preço para ganhar a confiança do Jefe, engoliam o orgulho e se faziam de sonsos.

Preciso dizer também que este livro têm umas partes muito violentas e intensas que podem causar muito desconforto e mal-estar, mas vale a pena encarar. Acho que já dá para ter uma ideia do impacto desta obra... Então espero ter conseguido despertar sua curiosidade e vontade de lê-la. 

Ah, já ia me esquecendo de mencionar que também existe a versão cinematográfica e homônima, que também vale a pena conferir.

Até a próxima!

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