quarta-feira, 22 de julho de 2015

Entrevista com Carlos Nougué sobre sua Suma Gramatical

Por ocasião da pré-venda da Suma Gramatical da Língua Portuguesa pela editora É Realizações, Carlos Nougué fez a gentileza de conceder uma entrevista ao blog para contar-nos um pouco desse trabalho. Para ler a entrevista publicada sobre sua carreira como tradutor, clique aqui.

Professor, em primeiro lugar, muito obrigada por conceder esta entrevista e dar-nos a oportunidade de conhecer mais a fundo seu trabalho como especialista em gramática da língua portuguesa. Conte-nos como surgiu o projeto da gramática?
RESPOSTA. Quem tem de agradecer aqui sou eu, Diana. Pois bem, o projeto da Suma Gramatical da Língua Portuguesa – Gramática Geral e Avançada surgiu durante os dez anos em que dei aula de Língua Portuguesa e de Tradução Literária numa pós-graduação da extinta Universidade Gama Filho. Eram já mais de 30 anos de estudos gramaticais aprofundados, necessários para uma carreira de tradutor que já me fez verter à nossa língua mais de 300 livros, uns 100 deles de alguma importância. Com efeito, não é possível escrever tanto em nossa língua, vertendo tantos autores importantes e de quatro idiomas, sem conhecê-la radicalmente, ou seja, até a raiz. A Suma Gramatical, portanto, é a suma, a súmula de meus estudos gramaticais durante toda uma vida de tradução.

Para que tipo de leitor está voltada a Suma Gramatical da Língua Portuguesa?
RESPOSTA. Para um público culto ou que queira aprender efetivamente a arte da escrita em língua portuguesa – e não a um público que queira tão somente aprender macetes para aprovar-se em concursos, e que, depois destes, aprovando-se ou não, acaba por esquecer os mesmos macetes. E ensinar efetiva e profundamente a arte da escrita em nossa língua (como, aliás, em qualquer outra) implica não só oferecer regras e paradigmas de abrangência o mais ampla possível, evitando quanto possível as exceções, mas também mostrar as luzes teóricas por que se rege e ilumina esta mesma arte. Como dizia o gramático venezuelano Andrés Bello, “a prevenção mais desfavorável [...] é a daqueles que julgam que em gramática as definições inadequadas, as classificações malfeitas, os conceitos falsos carecem de inconveniente, desde que, por outro lado, se exponham com fidelidade as regras a que se conforma o bom uso. Eu creio, contudo, que essas duas coisas são inconciliáveis; que o uso não pode expor-se com exatidão e fidelidade senão analisando os princípios verdadeiros que o dirigem, porque uma lógica severa é indispensável requisito de todo e qualquer ensino”. E é justamente por todo o dito que esta Suma Gramatical se diz gramática avançada.

De que forma sua formação em filosofia e sua ampla experiência como tradutor, professor e lexicógrafo contribuíram para a elaboração da Suma?
RESPOSTA. A formação em filosofia permitiu-me, creio, justamente mostrar aquelas luzes pelas quais se rege a gramática, e fazê-lo com rigor lógico e conceptual. A experiência de tradutor de grandes autores permite-me, creio, escrever com clareza, ainda quando se trata das partes mais teóricas, e com estilo harmônico, rítmico, fluido. A de lexicógrafo propicia-me abundância, flexibilidade e precisão vocabulares, além de intimidade com a etimologia. E a de professor, quero crê-lo ainda, a facilidade didática geral.  

Qual é a abordagem teórica da obra?
RESPOSTA. Não é fácil resumi-la, mas tentarei. Sem a escrita, não há verdadeira civilização universal ou tendente à universalidade. Isso é assim porque a fala, por fatores múltiplos, tende à entropia, à desordem, à corrupção, e a escrita é como o cimento da linguagem, razão por que tende a falar bem aquele que escreve bem. Ora, a gramática é exatamente a arte da escrita. Mas, para atingir mais plenamente seu fim, a gramática deve, como dito, reger-se por sólidas luzes teóricas e fornecer paradigmas e regras o mais abrangentes possível, com o mínimo possível de exceções. 

Professor, para finalizar, qual seria a sua resposta àqueles que ainda se perguntam: Para que serve a gramática?
RESPOSTA. Em última instância, como antedito, para manter viva a civilização, a mesma civilização em cuja língua, como disse Bilac, “da voz materna ouvi: ‘meu filho’”.



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