sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Modismos: livros para colorir


O cliente não pagou?

Sua licença expirou?

Caiu na armadilha de um falso amigo?

Perdeu seu glossário?

A conexão caiu?

O sistema operacional detectou um erro fatal?

Seu documento está corrompido?

Que bobagem, amiguinho, nada disso é motivo para se estressar! SORRIA! Seus problemas acabaram!

Pinte a Torre de Babel abaixo e você se sentirá muito melhor e ainda ficará com a consciência tranquila, pois nenhuma árvore precisará ser derrubada para aliviar seu estresse, além disso você não precisará gastar nem um centavo.

http://www.dibujosparapintar.com/dibujo/torre_babel.html#

Minha experiência. (Não é que ficou bonito?)

Chega de ioga, tai chi chuan, suco detox e bioprotein a moda agora é colorir! Posso até ouvir Apolo com sua lira de ouro, acompanhado por um coral de querubins cantando "Vou pintar um arco-íris de energia pra deixar o mundo cheio de alegria...".

Em aeroportos, escritórios, quartéis, conventos e até na estação espacial russa, as pessoas se renderam à magia das cores. Mandalas, flores encantadas, jardins secretos, matrioskas, corujas, basta dar uma olhada pelas bancas e livrarias para ter uma noção do sucesso. Tem livro de colorir para todos os gostos. A Globo Livros, por exemplo, acaba de lançar um título desses com a marca e o rosto do Padre Marcelo Rossi. Tem livros especiais para crianças, advogados, mães, gaúchos, celíacos... só não tem para tradutores. Este mundo é muito injusto mesmo! Qual é o tradutor que não sonha com um desenho de São Jerônimo para colorir?

Todos querem sua fatia do bolo, há inclusive psicólogos tentando explicar o sucesso dos livros de colorir e advertindo que eles não devem ser usados como a única forma de aliviar o estresse, o ideal é combinar os livros de colorir com ajuda profissional, ou seja, terapia (eles não são bobos nem nada, boba sou eu). Logo aparecerão estudos científicos e escavações arqueológicas provando que os egípcios já eram adeptos aos papiros para colorir.

Brincadeiras à parte, o fato é que a febre dos livros de colorir para adultos movimentou o mercado editorial brasileiro. Segundo uma publicação da revista Época Negócios, esse gênero chegou a alcançar, no auge do fenômeno, entre os meses de abril e maio, 17,34% de todas as obras vendidas no Brasil e 14,21% do faturamento.

A mesma pesquisa aponta, no entanto, que essa febre já passou (já?). O último período de vendas analisado pela Nielsen (18 de maio a 14 de junho) mostra que a participação de vendas deste nicho caiu para 10,58%. Já  a do faturamento foi para 8,23% do total.

Não tenho nada contra livros de colorir, muito pelo contrário, acho que é uma atividade saudável e relaxante, só fico com o pé atrás quanto ao fato de virar febre; afinal, a febre é um sinal de alerta. 

Acabo de ler uma notícia desconcertante sobre um livro infantil para colorir os ataques terroristas do 11/9. O livro teria sido publicado pela Really Big Coloring Books, editora que o apresentou como "uma ferramenta pedagógica para os pais explicarem aos filhos os fatos ocorridos". Entre os desenhos contidos no livro, destaca-se um que mostra Osama Bin Laden usando como escudo uma mulher vestida com burca para proteger-se de um militar que atira contra ele. Outro desenho mostra um homem que chora enquanto observa os retratos de vítimas do atentado.  O livro recebeu fortes críticas, principalmente da comunidade muçulmana, por estigmatizar a todos os praticantes dessa religião. 

Parece brincadeira de mau gosto, mas a notícia foi publicada pelo jornal britânico The Guardian (http://www.theguardian.com/books/2011/aug/31/9-11-children-colouring-book-muslims).

Deixando as bizarrices de lado, colorir também pode ser uma ferramenta lúdica para as aulas de língua estrangeira, por exemplo, para aprender o nome das cores. Se o aluno não aprender a língua, ao menos desenvolverá suas habilidades artísticas... (não necessariamente, diga-se de passagem). No pior dos casos, se ele não aprender a língua nem desenvolver suas habilidades artísticas, poderá relaxar... (ou não!).

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